Sindicatos de Joinville buscam alternativas em meio a dificuldades financeiras
Diminuição da estrutura sindical, busca por novos associados e taxas extras são algumas das estratégias utilizadas
Após o fim da obrigatoriedade de contribuição do imposto sindical aprovado em 2017 pelo Supremo Tribunal Federal (STF), os sindicatos trabalhistas de Joinville enfrentam dificuldades para se manter financeiramente.
A principal estratégia para conter o desemprego, a diminuição nas estruturas e o corte de benefícios dos trabalhadores tem sido apostar em novos associados e taxas extras.
Gerson Cipriano, presidente do Sinditex, afirma que as contribuições de imposto sindical representavam 40% da arrecadação financeira da corporação. Com o fim da obrigatoriedade, de acordo com o presidente, há dois anos o sindicato está sem receber.
“Agora ficamos aqui, com um prédio projetado para 12 mil pessoas, que consome uma parte financeira altíssima. Hoje, somos 4 mil, desses, apenas 1.460 pagam mensalidade”, diz.
Em uma análise pós-reforma trabalhista, o Sinditex perdeu 15% de seus associados, mas Cipriano não atribui esta perda apenas à reforma. Para ele, a rotatividade de funcionários nas empresas tem contribuído para o prejuízo. Para amenizar essas perdas, o sindicato teve de ajustar o quadro de funcionários e busca por novos associados.
“Estamos desenvolvendo estratégias junto aos RHs das empresas, fazendo material didático e panfletos informativos. Queremos que o trabalhador compreenda o papel do movimento sindical e por que ele é importante”, afirma.
Com uma média de 10 novos sócios por semana, o Sindicato dos Mecânicos manteve seu quadro de associados. Apesar disso, de R$ 600 mil que eram arrecadados ao ano antes da reforma trabalhista, no ano passado, apenas R$ 6 mil foram para os cofres da entidade referentes ao imposto, de acordo com o presidente João Bruggmann. Neste contexto, o sindicato tem investido em outros meios para driblar a situação.
“Além de diminuir drasticamente o quadro de funcionários, mantivemos taxas de convenção coletiva e assistencial, com direito à oposição. Também contamos com a renda de colônias de férias e quadras esportivas de empresas que não oferecem esse tipo de lazer”, explica Bruggmann.
Wanderlei Monteiro, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, diz que a arrecadação financeira diminuiu em 40% após o fim da obrigatoriedade do imposto sindical. Como medidas alternativas, o sindicato teve de diminuir estruturas e aplica duas taxas extras negociais de 2,5% ao ano. O trabalhador tem direito a se opor ao pagamento.
Monteiro ainda explica que, por mais que o Sindicato dos Metalúrgicos não concorde com o imposto, por acreditar ser uma forma de atrelar a entidade ao Estado, os valores eram utilizados para subsidiar necessidades dos próprios trabalhadores. Entre os cortes estão o bingão e o baile dos metalúrgicos.
“Quem tem que contribuir com a luta de classes é o próprio trabalhador, de forma espontânea e por consciência. Não podemos ter dinheiro de governo, partido político e de empresário”, defende.
Desvantagens para o trabalhador
João Bruggmann afirma que o desemprego foi um dos resultados negativos da reforma trabalhista. Para ele, agora, mais do que nunca, o trabalhador precisa se inteirar de seus direitos.
“Com a lei do imposto sindical também veio a aprovação de uma lei que se prevalece o negociado sobre o legislado. Portanto, em acordos individuais ou coletivos com as empresas, o sindicato terá mais força”, explica.
Wanderlei Monteira acredita que o trabalhador sindicalizado conhece melhor seus benefícios e, quando deixa de ser, perde a proteção da entidade e, consequentemente perde direitos.
“Quando deixa de ser sindicalizado, a entidade também diminui. Aumenta a luta por lucros por parte das empresas e os salários pioram”, afirma.
Gerson Cipriano acredita que faltou uma maior observação por parte do governo para avaliar quais sindicatos que estão realmente na ativa, fechando acordos e oferecendo vantagens aos seus sócios.
“Deveriam ter dado um espaço para nos adaptarmos. Mudanças necessariamente acontecem, mas cortar um imposto de uma hora pra outra foi injusto”, diz.
Para Cipriano, além da medida adotada pelo governo, a questão cultural também afeta os sindicatos. Ele explica que quando antigos funcionários se desligam das empresas, os novos que ocupam o lugar acabam não se associando. Em contrapartida, para ele, o movimento sindical corre riscos de acabar.
“Este é um problema que precisamos urgentemente de conserto. Na nossa última assembléia, comentamos que nosso fôlego está acabando. Se nada for feito, todo movimento sindical vai desaparecer”, sinaliza.
Já Wanderlei Monteiro encara de forma positiva as mudanças que estão sendo impostas neste modelo sindical, criado na era Getúlio Vargas. Para ele, as variações são necessárias para dar mais voz ao trabalhador.
“Hoje as relações de trabalho são outras. A luta de classes nunca vai acabar.”