Diferente do restante do estado, o Corpo de Bombeiros Militares de Joinville atua de forma administrativa. Para explicar como funciona este trabalho, a reportagem do jornal O Município Joinville conversou com o subcomandante Marcel Pittol Trevisan. A capitã Poliana, que comanda a 4ª companhia do 7° Batalhão dos Bombeiros Militar, estava de férias na ocasião.
Com uma equipe de 13 pessoas — dez homens e três mulheres —, os profissionais são focados em atividades de prevenção, como vistorias, fiscalizações, auditorias e formulação de novos projetos.
“Somos completamente focados na parte de prevenção, a parte operacional fica por conta dos (bombeiros) voluntários. Então fazemos este trabalho concorrente para a população. Funciona assim aqui e em Jaraguá do Sul”, explica Trevisan.
Dentro da rotina diária de demandas, os militares têm a função de vistoriar se estabelecimentos e estruturas multifamiliares possuem requisitos de segurança, atestar o habite-se sanitário (documento que autoriza o início de construções ou edificações destinadas à habitação) e fazem análise de projetos.
Por se tratar de um órgão estadual e, sendo assim, ter poder de polícia, há demandas que apenas os bombeiros militares podem executar. Um exemplo é o cumprimento de fiscalizações provenientes de denúncias feitas ao Ministério Público.
“Podemos dar multas, embargo e interdição. Recebemos denúncias do MP dos mais variados temas. Também recebemos da população, que entra no nosso site da ouvidoria e fazem reclamações, por exemplo, de pessoas com gás de cozinha dentro de casa, ou estabelecimentos comerciais que não possuem nenhuma segurança contra incêndio, não tem extintor, não tem nenhuma placa indicando a saída… É regularidade no geral”, esclarece.
Estrutura
Em Joinville desde 1994, a companhia de bombeiros militar começou a atuar na cidade dentro do aeroporto Lauro Carneiro de Loyola. Em 2010, após o aeroporto privatizar este trabalho, os socorristas passaram a desempenhar atividades relacionadas à segurança contra incêndio e vistorias.
A companhia de Joinville faz parte do 7º Batalhão de Bombeiros Militares de SC, que cobre de Itajaí à Itapoá. Trevisan explica que este batalhão se divide em quatro companhias: Itajaí, Navegantes, Barra Velha e Joinville.
“E dentro dessas companhias tem seus pelotões, as OBMs (Organizações Bombeiro Militar) que a gente chama, que ficam em Luiz Alves, Itapoá, Garuva e São Francisco do Sul” diz.
Dessas companhias e pelotões, somente em Joinville as atividades são voltadas para áreas técnicas e administrativas, portanto, não possuem equipamentos para atender a um incêndio ou acidente, por exemplo. Em outras cidades, é “50 a 50”: atividades operacionais mescladas a administrativas.
Caso aconteça uma ocorrência grande em Itapoá e tenha necessidade de um efetivo maior, equipes de Garuva e Araquari, por serem mais próximas, se deslocam para esses locais.
“Quando aconteceu o fogo na Cidadela, nós ligamos para a central dos bombeiros voluntários e disponibilizamos ajuda, caso fosse necessário. O importante é que as cidades estejam guarnecidas”, enfatiza o subcomandante.
Atendimentos durante a pandemia
Apesar de 99% do trabalho em Joinville ser administrativo, no ano passado, por conta da pandemia da Covid-19 – uma demanda excepcional -, algumas tarefas foram anexadas à rotina dos bombeiros.
“Nós fomos o elo entre a secretaria da Saúde do estado e os hospitais. Então aquela quantidade de leitos que existem hoje no estado, aqueles aplicativos da saúde, quem fez este elo foram os bombeiros militares. Fomos aos hospitais e explicamos como funcionava o programa”, conta o tenente.
A Operação Veraneio é uma das principais operações promovidas pelos socorristas. Durante a pandemia, além de garantir a segurança nas praias da região, os oficiais precisaram também controlar a circulação de pessoas para garantir que não houvesse aglomerações nas areias e calçadas.
“Aquela quantidade de leitos que existem hoje no estado, aqueles aplicativos da saúde, quem fez este elo foram os bombeiros militares”
Em 2020, foram registradas em Joinville 1.791 fiscalizações em edificações para averiguação dos sistemas de segurança contra incêndio e 879 edificações vitoriadas para verificação relacionadas à Covid-19. Em 2021, foram 529 vistorias em edificações e 164 relacionadas ao coronavírus.
“Realizamos operações em conjunto com outros órgãos de segurança pública do município. Aos fins de semana, nos reuníamos no 8° Batalhão da PM e de lá fazíamos grandes grupos e nos dividíamos. Também já saímos do parque operacional em São Francisco Sul, com embarcações pela cidade fazendo vistoria de lá até a baia da Babitonga, junto com a polícia”, afirma.
Como ser um bombeiro militar
Por se tratar de uma organização estadual, para fazer parte da corporação de bombeiros militar é necessário prestar concurso público. Trevisan explica que, após passar no concurso, o candidato pode escolher entre seguir carreira de praça, que vai de soldado a subtenente, ou carreira de oficial, que começa como cadete e vai até coronel. Em ambas as ocupações, o pré-requisito é ter ensino superior em qualquer área.
Na carreira de praça, além do concurso, é necessário uma prova física e psicológica, além de um curso de capacitação de oito meses. Para oficial, o caminho é o mesmo, no entanto, o curso tem duração de dois anos.
Em Joinville, há dois caminhos: as corporações de bombeiros voluntários e militares. Trevisan alerta que quem pretende atuar na parte operacional, atendendo a ocorrências de incêndio e acidentes, por exemplo, precisa ingressar no Corpo de Bombeiros Voluntários.
Na cidade, apesar de atuarem em “atividades concorrentes”, como citou o subcomandante, a relação entre as duas corporações é de respeito e colaborativa, quando necessário.
“Antigamente ouvia-se histórias de rixas, mas isso não acontece mais. Aqui, como atuam duas corporações, pode ser que aconteça de um local estar regularizado com os voluntários, mas não estar com os militares, então é preciso manter uma troca de informações. Além disso, mantemos contato em situações relacionadas a prevenção de incêndio e até em situações de calamidade pública, para nos acionarmos caso seja necessário”, admite.
Projetos de 2021
Adiado no verão passado por causa da pandemia, um dos projetos para 2021 é a implementação do Projeto Golfinho em Joinville, que tem como objetivo principal instruir crianças e adolescentes sobre os cuidados no mar.
Trevisan explica que o projeto precisará ser adaptado na cidade, já que não possui mares, mas há praias localizadas na região. O curso social ainda não tem data para começar e pode ocorrer em clubes com piscina ou na própria Vigorelli.
“Passando este conhecimento para a criança, ela pode conversar com os pais, e assim fomentar uma cultura de prevenção. Nosso principal objetivo é sempre prestar o melhor serviço possível na parte de prevenção”, garante.
Prevenir para evitar problemas
Formado em engenharia de materiais pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Trevisan prestou concurso público em Florianópolis, sua cidade natal, e iniciou carreira em Chapecó, no ano de 2017.
Antes disso, em seu último ano de faculdade, em parceria com a universidade, fez estágio na Alemanha, voltou a Santa Catarina e, enquanto estagiava em empresas, desenvolvia em paralelo um trabalho no laboratório da UFSC.
“Eu vivi a parte docente, mas também a de chão de fábrica. Na época, eu queria fazer algo a mais para a sociedade, apesar de gostar do meu trabalho, de desenvolver peças pra carro, não era a minha paixão”, lembra.
Movido por este desejo e em conversa com o irmão, que já era policial militar, e com amigos bombeiros, tomou a decisão de fazer o curso para bombeiro militar. Após dois anos de formação, abriram-se as vagas para o estado.
Em Chapecó, além de atuar na parte técnica, Trevisan também participava das ocorrências, o que ajudou a mitigar a visão que tinha anteriormente da corporação. Ele chegou a Joinville no ano passado, em meio a pandemia.
“Na época, achava que ser bombeiro era só apagar incêndio, mas com o tempo entendi a complexidade é muito maior: tem regate em altura, prevenção na praia e a parte toda de projetos e engenharia, que é o que eu mais trabalho hoje em dia”, reconhece.
Citando a competência e inteligência da equipe que comanda junto à capitã Poliana, o subtenente afirma que a parte administrativa é fundamental para que a operacional possa ser bem desenvolvida.
“Na análise técnica, todos os dias, arquitetamos projetos diferentes, que mexem bastante com o conhecimento. Eu gosto bastante. Uma vez, um capitão disse em uma palestra: ‘nunca salvei ninguém diretamente, mas dei meios para que essas pessoas (bombeiros) pudessem viver essas histórias que vemos’. E é isso, nós fazemos a prevenção para mitigar possíveis problemas”, afirma.
Apesar do gosto pela área administrativa, Trevisan também sente saudade das correrias e adrenalinas das ocorrências na rua. “Claro que sinto falta da parte operacional, mas a carreira tem 35 anos, daqui a pouco posso voltar”, finaliza.
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