Título do JEC na Série B do Brasileirão completa 10 anos; relembre conquista
Tricolor levantou a taça após uma campanha de 70 pontos em 38 jogos
Tricolor levantou a taça após uma campanha de 70 pontos em 38 jogos
Por Bernardo Gonçalves e Fred Romano
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O título do JEC na Série B do Brasileirão completa 10 anos nesta sexta-feira, 29. É o maior título dos 40 anos da história do Joinville Esporte Clube. No dia 29 de novembro de 2014, o tricolor entrou em campo diante do Oeste-SP e, apesar da derrota por 1 a 0, conquistou o título segunda divisão nacional e fez todos que estavam em Itápolis-SP e outros milhares espalhados por Joinville tirarem o grito de campeão da garganta.
O título foi conquistado após uma campanha de 70 pontos em 38 jogos. A Ponte Preta-SP, que disputava o título com o Joinville, empatou no último jogo em 1 a 1 com o Náutico-RN, na Arena Pernambuco, e ficou com 69 pontos. A comemoração do título ocorreu ainda antes do apito final no estádio dos Amaros, já que o jogo da Macaca acabou antes.
Na campanha do título, o JEC acumulou 21 vitórias, sete empates e dez derrotas. Ao todo, foram 54 gols marcados, 33 sofridos (a melhor defesa do campeonato) e 61,40% de aproveitamento. Dos triunfos, sete foram na reta final – das rodadas 29 a 35.
Apesar disso, o JEC teve duas derrotas e um empate nas últimas três rodadas que fez com que a disputa pelo título se mantivesse até os últimos minutos.
Porém, a Ponte Preta teve dois empates e uma derrota nos mesmos três últimos jogos da competição e o título ficou com o tricolor. A última vitória do JEC na competição foi justamente contra a Ponte Preta-SP na 35ª rodada da Série B.
O @jec_online teve campanha histórica, conquistou acesso e título no ano de 2️⃣0️⃣1️⃣4️⃣! Quem também subiu naquela temporada: Ponte Preta, Vasco e Avaí! Quem aí se recorda desta trajetória? pic.twitter.com/4joWEoTyaH
— Brasileirão Betnacional – Série B (@BrasileiraoB) March 21, 2024
Antes do título, o JEC comemorou o acesso à Série A no dia 4 de novembro, após vitória por 2 a 1 em cima do Sampaio Corrêa-MA, no Castelão. A vitória foi a quinta de uma arrancada de sete triunfos seguidos na reta final da Série B.
A escalação do técnico Hemerson Maria, que retornou para comandar o clube na temporada 2025, foi: Ivan; Edson Ratinho, Bruno Aguiar, Gutti e Rogério; Naldo, Anselmo, Marcelo Costa (Fabinho) e Éverton; Edigar Júnio (Franco) e Fernando Viana (Fillipe Soutto).
Os gols de uma das vitórias mais importantes da história do tricolor foram marcados por Everton e Fernando Viana, este último foi peça fundamental para a construção do resultado, visto que também participou diretamente no primeiro gol.
Viana marcou o gol que sacramentou a volta do JEC a elite do futebol brasileiro. Para o atacante, é o momento mais marcante dele naquela campanha, além disso, foi um gol “sonhado”.
“No jogo do Sampaio Corrêa, lembro que a gente estava saindo da concentração, aí o Gabriel Fronzi veio falar comigo, ele disse que o pai dele tinha sonhado que eu fazia o gol do acesso”, relembra Viana.
Sonho realizado para Antonio Fronzi, pai do radialista Gabriel, e também para o jovem Viana, que colocava o seu nome na história de um título nacional. Após cobrança de falta rápida, Ratinho cruzou para Fernando, que ganhou do defensor no alto e de cabeça garantiu o tricolor na elite do futebol nacional.
E o retorno da equipe a Joinville após a garantia do acesso foi festejada como um título. “A gente chegou em um caminhão de bombeiros e a cidade parecia um formigueiro de tanta gente”, relembra Viana.
Atletas e comissão técnica foram recebidos por “fiéis, orgulhosos e emocionados torcedores”, como retratado na época na capa do jornal A Notícia, e com “motivos para festejar”, retratados na capa do jornal Notícias do Dia.
Um dos destaques do título da Série B, o atacante Fernando Viana ganhou a titularidade faltando apenas 11 rodadas para o fim do campeonato. Com apenas 22 anos, ele teve a missão de substituir Jael, o então vice-artilheiro da competição, que sofreu uma lesão no tornozelo.
Ainda aos 20 anos, Viana chegou ao tricolor em 2012, primeiro ano do JEC na Série B. Nos dois primeiros anos, Fernando entrou em apenas quatro partidas na competição nacional. “Sinto que os dois primeiros anos, 2012 e 2013, foram para me preparar. Era um momento de crescimento do clube e que eu estava no início da carreira” comenta o atacante.
Até a lesão de Jael, Fernando havia disputado apenas seis jogos. Entre as oportunidades que teve, conseguiu marcar o gol da vitória diante do América-RN, na oitava rodada. “Eu tive algumas oportunidades no primeiro turno. Mas [no segundo turno] substituí o Jael, era uma grande responsabilidade”, relembra Viana.
“Lembro que o professor Hemerson Maria falou que não tinha como todo mundo jogar, mas que todo mundo tinha que estar preparado porque podia chegar a sua hora. E eu guardei isso para mim”, completa.
E foi na rodada 28, diante do Santa Cruz-PE, na Arena Joinville, que assumiu a titularidade. Na rodada seguinte, o tricolor venceu o Vila Nova-GO, por 1 a 0, após quatro rodadas sem vitórias. Além disso, o Joinville começou ali a arrancada para os sete triunfos seguidos que ajudariam a equipe a ser campeã.
“O maior desafio era segurar a empolgação, porque a gente estava bastante confiante. Em casa a gente não perdia e quando jogava fora respeitava o adversário, sem entrar de salto alto”, diz Viana, ao relembrar da reta final.
Na sequência de vitórias, Viana marcou gol em três jogos. O primeiro saiu na partida diante do Ceará-CE, terceira dele como titular, onde anotou um dos gols na vitória por 3 a 0.
Outro gol, um dos mais marcantes para Viana, foi diante do Avaí, na 32ª rodada. Em plena Ressacada, o tricolor venceu o rival catarinense por 3 a 0. A estrela de Viana brilhou de fato na rodada 34, com o gol do acesso.
Mas não parou por aí, na 37ª rodada, foi o autor do gol do empate por 1 a 1 contra o Luverdense-MT, que fez com que o JEC chegasse à última rodada com uma mão na taça.
Após a conquista do acesso, a nova meta era o título. O objetivo começou a se desenhar na vitória do Joinville diante do principal adversário na competição, a Ponte Preta. O duelo entre as equipes ocorreu já na 35ª rodada, após a confirmação da vaga na Série A. Com gols marcados por Rogério, Bruno Aguiar e Edigar Junio, o JEC assumiu a liderança, passou a ter dois pontos de vantagem sobre o time paulista e ficou mais próximo da taça.
Quem esteve naquele jogo foi o volante Naldo, que fez outras 26 partidas durante a campanha daquele ano. “O jogo contra a Ponte Preta foi memorável, porque foi dentro de casa e a gente estava brigando para ser campeão. A gente já tinha vindo do acesso e tava todo mundo eufórico, feliz, mas nosso time era muito humilde, aguerrido, todo mundo corria por todo mundo e isso era o mais importante”, relembra.
“Tinha mais de 18 mil pessoas na Arena aquele dia, que eu lembro e foi o melhor jogo da Série B, porque dali a gente deu o ‘passo’ para ser campeão”, destaca.
Também frisa que apesar dos tropeços nas últimas três rodadas, a equipe fez por merecer o título. “Conseguimos o acesso com alguns jogos de antecedência e isso foi muito importante. Aí tem aquele clima, fica mais relaxado, então até que perder o jogo (contra o Boa Esporte) foi bom para a gente se tocar que não era bem assim e que tínhamos que correr mais para poder ser campeão”, complementa.
Com a camisa do JEC, em duas passagens, Naldo tem 172 partidas. Em 2025 terá a terceira passagem pelo clube, novamente treinado por Hemerson Maria. Porém, desta vez atuará como zagueiro.
Segundo o atleta, Maria é um dos melhores treinadores com quem trabalhou. “Fico feliz por ele lembrar de mim. Eu moro aqui em Joinville, sempre estive aqui depois de ser campeão, conheci minha esposa aqui e fiquei. Bom relembrar esse tempo com ele, agora com o JEC em uma situação diferente”, ressalta.
“Viemos para tentar melhorar e colocar o JEC num calendário bom. A Série D é muito difícil, são três mata-matas até o acesso, jogos um atrás do outro, viagens de ônibus na primeira parte. Então a preparação física e fisiológica precisam ter um ‘carinho’ com o nosso corpo, para podermos sair da zona de conforto e atingir os objetivos”, finaliza.
Hemerson Maria foi o responsável por comandar o JEC ao título da Série B. Com uma defesa sólida, o treinador conseguiu manter uma regularidade nos resultados. A maior sequência de jogos sem vitórias foi de apenas quatro jogos – dois empates e duas derrotas nas rodadas 25 a 28. No ataque, contou com o brilho de Jael e Edigar Junior. Cada um fez 12 gols, somando 24 dos 54 feitos pelo time na competição.
Assim como Naldo, Hemerson Maria descreve a campanha do título da Série B como “memóravel”. Destaca que a preparação para a competição foi muito bem feita e que já havia começado com a campanha no estadual, onde a equipe chegou até a final.
“Decidimos com o Figueirense, naquele fatídico 2 a 1 no (Orlando) Scarpelli. Merecíamos o título, mas infelizmente ocorreram situações que todo mundo já sabe o que aconteceu. Então o grupo entrou com muita fome de conquistar o acesso na Série B. Iniciamos com uma sequência fuminante, com quatro vitórias e aquilo deu uma certeza que seria um ano que o Joinville conseguiria uma das quatro vagas (para a Série A), recorda.
Maria relembra que tinha uma frase que ele sempre dizia: “a gente mirava o sol para alcançar as estrelas”. As estrelas eram uma das quatro vagas na elite do futebol brasileiro. Após isso, começou a mirar o título, o que criou uma expectativa e uma certa ansiedade.
“Tivemos a possibilidade de ser campeão aqui (na Arena Joinville) contra o Luverdense e empatamos o jogos. E no jogo de Itápolis contra o Oeste ficou aquela coisa de ficar olhando o celular para ver quanto estava o jogo da Ponte Preta com o Náutico. E acabou dando tudo certo, tínhamos uma ‘gordura para queimar’ na última rodada e conquistamos aquele título inesquecivel”, recorda o técnico.
O treinador diz que houve alguns “jogos chaves” durante a campanha do título: contra o Ceára, na 11ª rodada, com o Avaí, na 31ª, e contra a Ponte Preta, na 35ª. Todos foram 3 a 1 para o tricolor.
“No jogo do Ceará a gente era vice-líder e eles líder, passamos eles e assumimos a liderança. Do Avaí, fizemos 60 pontos, e deu a certeza que o acesso não escaparia. E no jogo contra a Ponte Preta, foi a decisão da Série B de forma antecipada. Os jogadores estavam motivados, a Arena lotada, uma festa incrível do torcedor. Aquele jogo ali considero o jogo do título”, frisa.
Dez anos após toda a história escrita com a maior conquista do clube, Hemerson Maria está de volta ao comando técnico do JEC. Em 2025, terá a disputa do Campeonato Catarinense e a Série D do Brasileirão. O comandante descreve como um retorno “emblemático”.
“Penso que 2014 era de reafirmação do JEC no cenário nacional, vindo de um título de Série C (em 2011) e buscando o acesso. Agora, retorno em um momento totalmente diferente, de reconstrução. Temos uma diretoria que está trabalhando ativamente para que o clube se recupere. Do mais humilde funcionário até o presidente, está todo mundo trabalhando mesmo”, diz Maria.
“Estamos passando aos jogadores a importância de estar no Joinville. Digo que não vim para trabalhar em uma equipe de quarta divisão, eu vim trabalhar no JEC, que é o maior de Santa Catarina. A expectativa é muito grande de fazer um 2025 vitorioso, com a Arena lotada, com o torcedor do nosso lado, para que a gente possa atingir os objetivos do clube”, projeta.
Quem também comemorou o título do JEC em Itápolis foi o torcedor Feltrin Junior. Além da angústia pelo título, também teve uma experiência de dúvida para acompanhar a final. Viajou quase 800 quilômetros (km) sem ingresso garantido para entrar no estádio.
“Chegar naquele dia era um misto de apreensão e confiança, porque basicamente a gente poderia ter vencido o título. Tínhamos perdido algumas chances nas últimas rodadas. Naquele momento chegamos com ‘as calças na mão’, não tínhamos mais tanta certeza, mas a confiança foi a mesma que nos levou ao acesso”, resgata.
Feltrin foi com outros torcedores ao interior paulista com a esperança de acompanhar o duelo, mesmo sem ingressos. “Conseguimos entrar, mas não ficamos no setor destinado à torcida do JEC. Não tinha mais ingressos para ficar lá, se não me engano. Então basicamente a gente estava sem a camisa do JEC, em um setor perto da torcida do Oeste. Não tinha rivalidade e nenhum problema, mas por respeito, deixamos as camisas na bolsa”, explica.
O torcedor diz que a partir do momento em que percebeu que o JEC não conseguiria empatar ou virar o jogo, deixou a atenção ao campo de lado e passou a acompanhar a partida entre Náutico e Ponte Preta.
“Estávamos dos lados dos radialistas, eu lembro bem de estar perto da Danuta (Malavolta), a gente dizendo ‘acabou? Não acabou?’ E quando acabou, veio abaixo, ninguém mais se aguentava”, recorda.
“No final, graças a Deus, a história nos diz aí que tudo deu certo. A gente foi campeão, não do jeito que a gente queria, mas foi do jeito JEC e era assim que tinha que ser”, comemora.
A comemoração do título começou na arquibancada e logo seguiu para o campo, junto aos jogadores, comissão técnica e equipe do clube.
Feltrin conta que não entrava em campo para comemorar título da forma que foi desde os tempos de Enerstão. “Eu relembrei os tempos de 2001, foi muito legal isso porque é uma memória minha. E era um misto de não saber o que fazer, pois a gente ia para perto da torcida, via todo mundo comemorando e, ao mesmo de querer estar lá com eles, estávamos comemorando com os jogadores.”
A celebração com os atletas do Coelho no campo não ficou somente na memória do torcedor, mas também ficou eternizada em uma foto.
“De repente rolou um ‘burburinho’, todo mundo apareceu na foto e eu estava no ‘bolo’. A foto foi para a capa do g1. Foi realmente um sonho, pois era o nosso segundo título nacional, o meu segundo dentro do estádio, e esse eu estava no gramado, perto da taça e com todo mundo comemorando. Foi um sentimento que nunca mais vou esquecer”, descreve.
Em uma situação totalmente diferente do que vivia em 2014, o JEC voltará a disputar uma competição nacional em 2025. Com o retorno do técnico Hemerson Maria e o volante Naldo, Feltrin Junior acredita no comprometimento de ambos para ajudar o clube nesta retomada.
“O que eu espero é resgatar a força dentro de casa, como o Maria sempre diz, a nossa ‘catedral’. E eu tenho certeza que se a gente conquistar a força e a confiança dentro de casa, saber jogar com a pressão de tudo o que estamos vivendo, vai tornar o nosso caminho mais fácil”, finaliza.
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