Torcedor do Remo espancado em Joinville deixa hospital; família tem medo do preconceito

Tia da vítima afirma que familiares temem permanecer na cidade

Torcedor do Remo espancado em Joinville deixa hospital; família tem medo do preconceito

Tia da vítima afirma que familiares temem permanecer na cidade

Lucas Koehler

O torcedor do Remo agredido por torcedor do Joinville, Wellington Santos, recebeu alta do Hospital São José após ficar 26 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O rapaz foi espancado por membros de uma torcida organizada do JEC no dia 21 de fevereiro, em um bar no bairro Aventureiro, zona Leste da cidade.

Wellington chegou a sofrer um traumatismo craniano após as agressões e, mesmo deixando o hospital, ainda se recupera de traumas e lesões. Ele está com dificuldades para andar, tom de voz baixo e sem a visão do olho esquerdo.

De acordo com a tia do torcedor, Francinete Souza, que também mora em Joinville, a família migrou de Belém (PA) para o município em 2018 em busca de melhores condições de vida.

Aqui, ela conta que a família se reúne no bar para assistir aos jogos do Remo. No dia das agressões, Wellignton e outras pessoas, incluindo crianças, acompanhavam o clássico paraense contra o Paysandu no local, inclusive com torcedores da equipe adversária.

Ela destaca que, apesar da rivalidade, os torcedores dos dois times viam o jogo sem qualquer tipo de confusão. Além disso, Francinete ressalta que o sobrinho e nem as outras pessoas do bar pertencem às torcidas organizadas dos clubes. “Tinham famílias. Vamos lá para fazer festas, almoçar, não é só para o jogo. É um local que pessoas do Pará se encontram em Joinville”, conta.

Preconceito contra paraenses

Francinete acredita que a xenofobia contra os paraenses foram os motivadores das agressões a Wellington e aos outros torcedores. Ela ressalta estar com medo de permanecer na cidade. “O medo é do preconceito que vivemos na cidade”, lamenta.

A mulher diz temer novas agressões ou ameaças dos torcedores do Joinville. “Foi um preconceito dos joinvilenses contra nós. Agora tenho medo deles acharem a nossa casa, nos ameaçar por telefone”, comenta.

Também torcedora do Remo, ela reforça que os torcedores que estavam no bar não apoiam a violência. “Não fomos nós que começamos a briga. Estamos aqui para trabalhar e ter uma vida melhor. O futebol é a nossa distração do fim de semana”, desabafa.

Arrecadação financeira

Sem condições de Wellington trabalhar, a família do torcedor paraense criou uma campanha virtual de arrecadação financeira. De acordo com a tia, Francinete, o valor arrecadado será utilizado para o sustento e pagamento de dívidas da família do rapaz.

Entre os objetivos, está o pagamento do aluguel e comprar comida, como frutas, legumes e outros alimentos básicos do dia a dia. As doações podem ser feitas pela chave Pix 47991171545.

Justiça nega habeas corpus para torcedores do Joinville

Na última segunda-feira, 28, o desembargador Sérgio Rizelo, do Tribunal de Justiça (TJ-SC) negou dois pedidos de habeas corpus para soltura de dois integrantes de torcida organizada do Joinville que foram presos no dia 24 de março. Eles são investigados por uma tentativa de homicídio após agressão a um torcedor do Remo e Paysandu.

As defesas dos dois solicitaram os habeas corpus sob o argumento de que não há perigo de ordem pública com a liberdade dos investigados, tendo em vista que ambos possuem boas referências pessoais. Os advogados de um deles também acrescentaram não haver comprovação da existência de um crime e indícios suficientes de autoria.

Operação da Polícia Civil que prendeu integrantes da torcida organizada do Joinville | Foto: Polícia Civil/Divulgação

Em sua justificativa, o desembargador afirmou que não foi identificada situação de constrangimento ilegal nas prisões preventivas decretadas. “Não se verifica ilegalidade flagrante no acórdão atacado”, disse o magistrado em sua decisão.

Até o momento, os 12 investigados pelo crime de tentativa de homicídio seguem presos preventivamente.

Na última sexta-feira, 25, a reportagem do jornal O Município Joinville entrou em contato com um diretor da torcida União Tricolor, porém, ele afirmou que o grupo irá se manifestar apenas por nota oficial, que não foi divulgada até a publicação desta matéria.


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