Tradição e simbolismo: Desfile de Carnaval encanta moradores em Joinville
Evento começou às 22h45 e terminou por volta das 3h15
Na noite deste sábado, 11, e madrugada de domingo, 12, Joinville foi palco de um espetáculo de simbolismo e tradição com o Desfile de Carnaval, que aconteceu no início da rua Max Colin até o fim do Centreventos Cau Hansen. O local foi palco de muita diversão, histórias e festa para os joinvilenses que foram prestigiar o evento.
Estiveram presentes no desfile o prefeito e a vice-prefeita de Joinville, Adriano Silva e Rejane Gambin, além de diversas autoridades como a vice-governadora Marilisa Boehm. Segundo o prefeito, o momento era de alegria. “É incrível ver tantas pessoas juntas em prol de uma ação como essa. O desfile veio para dar alegria para os joinvilenses”, relata.
A realeza do Carnaval 2023 também desfilou na rua Max Colin. A rainha é Sabrina da Costa Lima. A princesa Helena Cristina da Costa. Já o rei momo é Paulo Sérgio da Rosa.
Porém, o ponto alto foram as escolas de samba que começaram o desfile por volta das 22h45. As quatro escolas de samba reuniram em seus enredos diversos assuntos importantes para a sociedade e, por meio da dança e da música, retratam questões de raça e sexualidade. Confira as escolas:
Fusão de Samba
O enredo “Fusão do Samba trouxe a Retrospectiva” relembra “O Circo – a alegria chegou na cidade”, “Mestre Ernesto Bateria Nota 10” e “A consciência negra volta a sorrir, valeu Zumbi!”, em composição de Elexandro Melo.
Segundo Enelir, presidente da escola, o primeiro garantirá o colorido da festa e lembrará da emoção principal do Carnaval, enquanto o último destacará a importância da história e cultura negra no Brasil. A emoção fica por conta do trecho que relembra o samba-enredo de 2014, em homenagem ao Mestre Ernesto, o “Butiaquinho”.
Ele tem mais de 50 anos de dedicação ao Carnaval de Joinville e São Francisco do Sul e, neste ano, será a última vez em que sairá à avenida como mestre de bateria. É uma tradição que se encerra – ainda que ele tenha fôlego para continuar desfilando por mais alguns anos, sem a responsabilidade de conduzir o grupo – mas com a esperança de novos carnavalescos que estão chegando.
“A escola tem muitas crianças, muitos filhos e netos de pessoas que participam do Carnaval de Joinville há muitos anos. É um desafio montar o desfile, trabalhar dia e noite por semanas, mas não vamos deixar essa história acabar”, garante Enelir.
Unidos do Caldeirão
Os GRES Unidos do Caldeirão entraram na avenida Beira-rio, no Desfile do Carnaval de Joinville, com o compromisso de representar, ao mesmo tempo, a comunidade de que fazem parte, o samba enredo que conta a história do ferro e ainda uma diretoria estreante na função.
“Nessa diretoria, colocamos aqueles que costumam estar na ponta, fazendo os trabalhos manuais e preparando a comunidade diretamente na rua, para gerir e experimentar esse intercâmbio de saberes”, explica a presidente da agremiação, Eliane Silva.
Neste ano, a escola levará para a avenida a história do ferro. O metal, exaltado no samba-enredo “Universo presente na riqueza da Terra – o futuro a ti pertence”, costura a história desde o mito africano de Ogum até as indústrias dos tempos atuais. O enredo exalta o orixá (Ogum é ligado ao ferro, que representa a prosperidade da humanidade por meio das ferramentas utilizadas na agricultura e das armas), mas também as fábricas e seus trabalhadores, criando um elo com o perfil industrial da cidade.
A agremiação é recente, foi fundada em 2011, por educadores sociais que queriam resgatar o histórico de pertencimento dos moradores de Joinville à cultura carnavalesca e às escolas de samba, principalmente à extinta Unidos do Boa Vista. Eliane destaca que atualmente a agremiação é formada, principalmente, por moradores dos bairros Ulysses Guimarães, Jarivatuba, Adhemar Garcia e Paranaguamirim
“O Carnaval é o momento que temos para mostrar quem nós somos: a comunidade é formada de pessoas simples, que tiveram poucas oportunidades mas, ainda assim, que tem ânimo, disposição e comprometimento de levar para a avenida a mensagem de que a gente existe e também pode fazer um espetáculo que encha os olhos do público”, declara a presidente da escola.
Príncipe do Samba
A Escola Príncipes do Samba entrou na avenida Beira-rio fazendo homenagem a uma de suas fundadoras, estará reverenciando também a história do Carnaval de Joinville. Zelândia Custódio da Costa foi uma das mais importantes protagonistas da festa popular e do fortalecimento da cultura negra em Joinville, e é para ela o enredo de “Uma Vez Fioca, Para Sempre Zelândia – A Dama da Passarela”. Ele será o terceiro a ser apresentado no Desfile das Escolas de Samba de Joinville, que contará com quatro agremiações.
Zelândia ainda era uma adolescente quando participou da fundação da Sociedade Kênia Clube, o primeiro para pessoas negras em Joinville que, em 1960, ainda não eram aceitas em outros clubes e sociedades. O local tornou-se símbolo de resistência e, em 2022, foi registrado como Patrimônio Cultural Imaterial pela Prefeitura de Joinville. No fim dos anos 60, ela e outros associados criaram a primeira escola de samba da cidade, à época ainda com o nome do clube e que, atualmente, é a Príncipes do Samba, a mais antiga ainda em atividade em Joinville.
“Ela dedicou a maior parte da vida dela ao samba e ao Carnaval de Joinville. A ideia de homenageá-la já existia em vida, mas infelizmente ela faleceu em 2019, aos 73 anos. Definimos que era hora de fazer a homenagem no Carnaval de 2020, o que não aconteceu porque não houve desfile naquele ano, então ocorre agora. Inclusive, com a neta da Fioca a representando”, conta o presidente da Príncipes do Samba, Emerson França.
O enredo levará à avenida a trajetória de Zelândia – carinhosamente chamada de Fioca – desde a infância até a vida adulta, e também voltará no tempo para mostrar a origem do Carnaval por meio de personagens da commedia dell’arte como arlequins e colombinas. Homenageará ainda a história do Kênia Clube e resgatará a velha guarda do samba de Joinville, com destaque para a “Avenida Cubas”, berço do estilo musical no bairro Bucarein.
“Temos como convicção de que temos que manter firme a manutenção da história do Carnaval de Joinville. Apesar de muitos acharem que só começou a ser celebrado de uns anos para cá, os registros mostram que é muito mais antigo, e a Príncipes era um destaque. Foi 13 vezes campeã nos desfiles competitivos. A escola fez parte da vida de muita gente em Joinville, e muitos ainda lembram daqueles tempos de glória”, afirma Emerson.
Unidos pela Diversidade
A comissão de frente da Unidos foi a responsável por fechar o desfile, com previsão de entrada de seus foliões a uma hora, após a passagem de outras três agremiações. Os diretores da Unidos pela Diversidade sabem que é crucial, para manter o público fiel e atento, encantar desde o primeiro minuto.
Para cumprir esse propósito, uma das estratégias foi convidar a Companhia de Dança Liliana Vieira, multipremiada nas noites de Danças Populares do Festival de Dança de Joinville, para compor a comissão de frente da escola no desfile. Essa união, segundo a presidente da escola, Inês Gonçalves, é vista como uma das marcas do Carnaval de Joinville em 2023.
“As parcerias abrem um leque de possibilidades para as agremiações”, avalia ela. A escola, que tem suas raízes na Semana da Diversidade de 2009, viu sua história crescer e se consolidar a cada ano.
Com o propósito de ser um movimento que contemple as mais diversas formas de existir, sem exclusão por gênero, raça, etnia, orientação sexual ou renda, a Diversidade se lançou como bloco de Carnaval ainda em 2009 e, dois anos depois, fundava oficialmente o Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos Pela Diversidade. Em 2015, já recebia o título de campeã do Carnaval joinvilense.
Para 2023, a escola apresentará ao público “Arroboboi Oxumaré – Um Arco-Íris De Renovação”. O samba que dará o tom para os foliões nasceu de pesquisas temáticas relacionadas aos símbolos da escola.
“Encontramos Oxumaré, orixá representado pelo arco-irís, que tem entre suas características movimento, continuidade e permanência. Há ainda símbolos que nos unem como a cobra e a borboleta”, descreve Inês.
“Há muita gente que gosta de Carnaval em Joinville. E Oxumaré também é isso, renovação, persistência e luta, é não desistir, é esperançar”, discursa Inês, enquanto recorda um trecho do samba-enredo deste ano. “Tem que respeitar o meu tambor, sou a luta do povo por igualdade, com a força de Oxumaré, o mundo melhor diversidade”.
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