Uber expulsa motoristas por excesso de cancelamentos; profissionais de Joinville pedem melhorias
Insegurança e preço da gasolina também são pontos-chave no dia a dia dos trabalhadores
Insegurança e preço da gasolina também são pontos-chave no dia a dia dos trabalhadores
Dos cerca de 1 milhão de motoristas e entregadores cadastrados na Uber no Brasil, 0,16% apresentaram comportamentos que prejudicam intencionalmente o funcionamento da plataforma. Sem ter números regionais, trabalhadores de Joinville também foram impactados com o perfil excluído do aplicativo.
De acordo com a empresa, motoristas e usuários podem cancelar viagens quando necessário, porém, cancelamentos excessivos representam abuso do recurso e configuram mau uso da plataforma.
Caso o número excessivo seja comprovado, a plataforma afirma que busca banir as contas envolvidas. Para a empresa, a prática de cancelar diversas viagens após terem sido aceitas prejudicam negativamente todos que usam a plataforma.
“De um lado, impedem que outros motoristas gerem renda. E, por outro, deixam os usuários esperando mais tempo ou até desistindo da solicitação”, diz a Uber, por nota.
Longas jornadas de trabalho, ruas sem a devida estrutura, salários baixos, taxas altas e sentimento de insegurança. Motoristas de aplicativos de Joinville afirmam que o setor precisa evoluir e exigem melhores condições trabalhistas.
Exemplo disso é Eduardo Teixeira, de 43 anos, que trabalha neste ramo há três anos. Sua carga horária, em média, é de 12 horas diárias. Com esta queixa, se soma a falta de local adequado para ir ao banheiro, pontos de embarque e desembarque e a não existência de um lugar para se alimentar. “Faço minhas refeições dentro do carro”, lamenta.
Já Clelia Schneider, 42 anos, passa 13 horas do dia dirigindo. Seu turno começa às 5h da manhã e vai até às 20h. Quando possível, faz uma pausa para almoçar. “Às vezes trabalho um pouco menos, às vezes um pouco mais”, conta.
Ela avalia que os condutores não têm condições adequadas de trabalho, serviço que se tornou fundamental na cidade. A falta de um local correto para o passageiro embarcar é uma delas. “Nós somos obrigamos a subir em calçadas e utilizar o corredor do ônibus”, cita.
O custo para manutenção do veículo, que deve ser paga exclusivamente pelo condutor, também é um ponto negativo. “Em meio a tantos buracos nas vias, nos vemos obrigados a a ter que reparar o carro com mais frequência”, diz.
Ambos têm outro ponto em comum de reclamação: o custo das taxas cobradas pelos aplicativos a cada corrida. Para Eduardo, as plataformas devem repensar os preços. “Há quase seis anos não temos um reajuste em nossos ganhos”, fala.
Procura pela reportagem do jornal O Município Joinville, a Uber, por meio de nota, diz que, no passado, a taxa de serviço cobrada dos motoristas pelas viagens era fixa em 25%, mas, desde 2018, se tornou variável para que tivesse maior flexibilidade e que o valor fosse utilizado em descontos aos usuários.
“Em qualquer viagem, o motorista sempre fica com a maior parte do valor pago pelo usuário”, diz o texto.
A empresa ainda afirma que todos os condutores ativos recebem, semanalmente, por e-mail, um compilado sobre os ganhos e quanto cada uma pagou de taxas para o aplicativo.
Entre as reclamações de Eduardo, nenhum supera a falta de segurança, que, para ele, atualmente, é o que há de pior no emprego.
Ele explica que diversos motoristas da cidade utilizam grupos de WhatsApp para criar um sistema próprio de segurança, no qual compartilham a localização em tempo real e dialogam entre si por um canal de rádio. Para ele, porém, é insuficiente. “Deveríamos ter a segurança pública presente, para quem pagamos nossos impostos”, se queixa.
Já Clelia lembra que, quando começou a trabalhar com aplicativos, trafegava pelas ruas até 21h ou 22h, agora, diz não ter coragem para cumprir o mesmo horário.
Ela expõe não se sentir segura para dirigir à noite. “Sempre fiz questão de falar que Joinville era uma cidade tranquila para trabalhar, hoje não consigo dizer o mesmo”, conta.
Em 7 de agosto, Evandro Telles Rodrigues, de 39 anos, morreu enquanto trabalhava como motorista de aplicativo. Ele foi rendido por dois homens e, após assalta-lo, a dupla o golpeou com uma faca no peito, abandonaram o corpo e depois o carro. O crime aconteceu no bairro Boa Vista.
No dia 10 do mesmo mês, ambos foram presos preventivamente. Um deles, por ser adolescente, foi apreendido e internado, segundo informações da Polícia Civil.
A Uber destaca que a segurança é prioridade da empresa e que sempre está buscando, por meio da tecnologia, fazer da sua plataforma a mais segura possível. “Atualmente, uma viagem pelo aplicativo já inclui ferramentas de segurança antes, durante e depois de cada viagem, tanto para os usuários quanto para os motoristas”, sinaliza a nota.
Em agosto deste ano, de acordo com dados divulgados pelo Procon, o litro da gasolina comum, em Joinville, estava custando até R$ 5,69. Já o da aditivada era de até R$ 5,96.
Com os preços altos para abastecer o carro, esta se torna mais uma dificuldade para os motoristas de aplicativos.
Eduardo diz entender que o momento é difícil por conta da pandemia da Covid-19, mas condena os aumentos que vêm sendo realizados. “Chegará um dia que, infelizmente, não só a nossa categoria, como outras diversas vão parar”, argumenta.
Já Clelia ressalta que está cada vez mais difícil encher o tanque do carro. “o combustível não para de subir, os valores repassados pelos aplicativos não acompanham os aumentos absurdos que aconteceram nos últimos tempos”, finaliza.
Através da nota, a Uber diz que está realizando diferentes ações, em 2021, para diminuir o impacto do tema sobre os motoristas. Uma delas é oferecer até 20% de cashback para o motorista no abastecimento do seu carro.
Além disso, de forma permanente, pagando com o aplicativo “abastece-aí”, nos postos Ipiranga, o motorista tem direito a 4% do mesmo modelo, que é quando empresas de cartão de crédito devolvem parte do valor ao usuário.
Para a empresa, isso significa que, além de receber de volta parte do custo no abastecimento, o motorista acumula mais pontos para usar, por exemplo, na manutenção do carro. “Considerando quem abastece um carro 1.0 toda semana com gasolina, a economia estimada supera R$ 500 por ano”, termina o texto.
O jornal O Município Joinville tentou contato com motoristas da cidade expulsos por esse motivo, porém, não foram localizados até o fechamento desta reportagem.
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