Prefeitura de Joinville/Divulgação
Último verão foi o sexto mais quente no Brasil desde 1961; saiba temperatura máxima registrada em Joinville
Professor de Climatologia aponta causas e consequências das mudanças do clima para a região
O verão de 2024/2025 foi o sexto mais quente no Brasil desde 1961, segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). A temperatura ficou 0,34°C acima da média do período entre 1991 e 2020, de acordo com a pesquisa. Em várias regiões do país, as temperaturas ficaram acima da média histórica. O professor de Climatologia da Univille, Paulo Ivo, comenta sobre as causas e consequências das mudanças climáticas e o aquecimento global e como isso afeta Joinville.
Em Joinville, de acordo com a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), a temperatura máxima deste ano foi registrada em janeiro, com 39,21 °C. Em fevereiro, a máxima foi de 36,43 °C, e em março, 34,96 °C. Além disso, em 2024, as temperaturas foram ainda mais elevadas, com destaque para fevereiro, quando foi registrada a máxima de 40 °C.
Contudo, no início do ano, o índice de calor em Joinville chegou a 57°C. Também houve dias em que a sensação térmica ficou em torno de 49°C. Os valores são calculados a partir da temperatura e da umidade do ar, que pode deixar a sensação de calor mais alta. Os dados são da Epagri/Ciram, coletados em uma estação em Pirabeiraba.
O professor Paulo Ivo afirma que o verão deste ano foi excepcionalmente atípico. “As temperaturas médias chegaram muito acima do que se considera normal para a estação. Além disso, o regime de chuvas foi baixo e irregular, concentrando-se em tempestades intensas, com ventos fortes, granizo e descargas elétricas, em vez das pancadas típicas do fim da tarde”, comenta.
De acordo com a Epagri/Ciram, em 2025 Joinville registrou um acumulado de 734,8 milímetros (mm) de chuva. Isso equivale a 734,8 litros de água por metro quadrado ao longo do ano. Em 2024, o total foi de 947 mm e, em 2023, de 829 mm.
Causas do aquecimento global
As mudanças climáticas são transformações a longo prazo nos padrões de temperatura e clima. De acordo com o último relatório divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o aquecimento global induzido pela humanidade tem provocado mudanças no clima sem precedentes na história recente. Segundo a pesquisa, com 1,1°C de aumento na temperatura terrestre, essas transformações afetam todas as regiões do planeta, resultando na elevação do nível do mar, na intensificação de eventos extremos e na redução acelerada do gelo marinho.
Pauli afirma que esses fenômenos têm influência direta das transformações que o ser humano causou no meio ambiente, resultando em mudanças climáticas e no aquecimento global. “A modificação das paisagens, como a substituição das florestas por concreto e os desvios de cursos de rios, além da utilização de combustíveis fósseis contribuem para o lançamento de gases de efeito estufa, resultando no processo de aquecimento global”, explica.
Para o professor, outro fator pouco discutido, mas significativo, é a mudança nas paisagens. “Onde antes havia florestas, hoje há cidades, concreto e asfalto. As superfícies mais escuras absorvem mais calor do sol, contribuindo para o aquecimento. Todos esses elementos combinados estão entre as principais causas do problema”, informa.
Em janeiro de 2025 houve um aumento de 68% no desmatamento da Amazônia Legal em comparação com o mesmo período do ano anterior, atingindo cerca de 133 km² de destruição florestal, conforme o Relatório Anual de Desmatamento (RAD) produzido pelo MapBiomas. O relatório do MapBiomas apontou, em 2022, que a principal causa é o agronegócio, provocando 95,7% da devastação, o equivalente a 1,96 milhão de hectares.
Última década foi a mais quente já registrada; próximos verões devem ser ainda mais quentes
De acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), a última década (2011-2020) foi a mais quente já registrada, devido ao aumento das emissões de gases de efeito estufa e ao aquecimento global. A aceleração da mudança climática é impulsionada por ações humanas. Desde os anos 1980, cada década tem sido mais quente do que a anterior, segundo a organização.
Paulo Ivo explica que os próximos anos devem registrar verões ainda mais quentes devido ao aquecimento global. “É um processo contínuo enquanto não revertermos as principais causas. A expectativa é que tenhamos cada vez mais calor ao longo do ano inteiro, com invernos mais amenos. Esse aumento de temperatura também favorece grandes tempestades, caracterizadas por ventos fortes, granizo e descargas elétricas em curtos períodos de tempo.”
Em agosto de 2024, a Organização das Nações Unidas (ONU) alertou sobre o aumento sem precedentes do nível dos oceanos devido ao aquecimento global causado pelo homem. Segundo um relatório da OMM, nos últimos 30 anos, algumas regiões do Pacífico registraram uma elevação de 15 cm no nível do mar, acima da média global de 9,4 cm. O aumento desse nível é consequência do aumento das temperaturas do planeta, que provoca o derretimento das calotas polares.
Como as mudanças climáticas afetam Joinville?
Segundo Paulo Ivo, na região de Joinville, os efeitos do aquecimento são intensificados por conta da proximidade com a serra. “Os ventos da nossa região são predominantemente marinhos, já vêm carregados de umidade e absorvem ainda mais ao passar pela Baía da Babitonga”, ressalta. “Essa umidade se desloca em direção à serra, que atua como uma barreira de contenção e retém grande quantidade de energia, favorecendo a formação de tempestades”, explica o professor.
Com isso, a umidade elevada aumenta a sensação térmica, tornando o calor mais intenso em Joinville. “Além disso, essa umidade se acumula no pé da serra, elevando a possibilidade de trovoadas, granizo e tempestades elétricas mais severas”, informa.
Além do calor mais intenso, o professor destaca que as chuvas têm se tornado cada vez mais irregulares. “A chuva que cai com grande intensidade durante uma, duas ou três horas ao longo de uma tempestade deveria estar distribuída ao longo da semana ou do mês. Esse é um efeito adverso, a concentração das chuvas em curto período e a má distribuição”, informa Paulo.
O professor ressalta que essa irregularidade traz impactos significativos. “Estaremos sofrendo com a seca, e, de repente, vem uma tempestade e inunda tudo. Depois, novamente, um período de estiagem. Essa variação afeta a agricultura e também a saúde humana”, alerta.
Consequências das mudanças climáticas: impactos na infraestrutura urbana, saúde e agricultura
O professor de Climatologia salienta que as consequências do processo de mudança climática acometem o planeta inteiro. A Organização das Nações Unidas (ONU) aponta que o aumento das temperaturas ao longo do tempo está mudando os padrões climáticos e perturbando o equilíbrio da natureza, com riscos diretos à vida humana e a todas as outras formas de vida na terra.
Segundo a ONU, as mudanças climáticas são a maior ameaça à saúde que a humanidade enfrenta. Entre os impactos estão a poluição do ar, surgimento e agravamento de doenças, eventos extremos, deslocamentos forçados, problemas de saúde mental, e aumento da fome e subnutrição em locais onde as pessoas não conseguem cultivar ou encontrar alimentos suficientes. A entidade estima que fatores ambientais sejam responsáveis por cerca de 13 milhões de mortes por ano. Com o aumento de doenças e mortes, a manutenção dos sistemas de saúde também é prejudicada.
O professor informa que as variações bruscas de temperatura atingem as vias respiratórias, e a ausência de invernos rigorosos favorece a permanência de vetores de febre amarela, dengue e chikungunya, como o mosquito Aedes aegypti. “Anteriormente, o inverno aniquilava esses mosquitos. Mas agora, com a falta de inverno, ele se instala na região e transmite uma série de doenças para a população”, afirma.
Como já mencionado, as mudanças climáticas têm provocado eventos extremos, como chuvas intensas em curtos períodos. O professor explica que isso desafia a estrutura das cidades. “Quando a chuva ocorre de forma espaçada, a drenagem urbana costuma dar conta, mas muita água em pouco tempo, não há drenagem urbana que dê conta. Então há uma questão estrutural”, afirma.
Além disso, segundo ele, o aumento na ocorrência de granizo também exige atenção, pois as pedras tendem a ficar cada vez maiores por causa do superaquecimento da atmosfera. “As estruturas dos telhados das nossas residências não estão adaptadas a pedras de granizo. Um granizo maior significa repensarmos essas estruturas”, diz o especialista.
Outro fenômeno que tem se tornado mais frequente é o de descargas elétricas. O professor destaca que os raios estão mais intensos e comuns, o que também exige um novo olhar para a segurança das cidades. “É preciso repensar essa questão”, alerta.
Na agricultura, o impacto também vem da irregularidade das chuvas. Segundo ele, períodos de muita água podem encharcar e inundar o solo, matando plantações. Já os vários dias sem chuva ressecam e desidratam o solo, prejudicando ainda mais o cultivo. “A plantação ou morre por excesso ou por falta de água”, explica.
Possíveis soluções
Para o professor Paulo Ivo, é preciso utilizar outra matriz energética que não somente os combustíveis fósseis, que são a principal fonte atualmente.“Poderia substituir por energia eólica, solar, o próprio etanol, enfim, coisas não tão prejudiciais à química da atmosfera”, comenta.
Além disso, ele também alerta para a importância de conter as derrubadas de florestas. “Muitas áreas são desmatadas para a agricultura e pecuária e, por esgotamento do solo, ele acaba não absorvendo calor. Então, essas áreas são abandonadas”, explica Paulo. Ele ressalta a necessidade de um processo intenso de reflorestamento e recuperação das terras degradadas para restaurar sua condição original.
“Outra medida interessante para reduzir os impactos das mudanças climáticas nas cidades é a escolha de cores mais claras para edifícios”, comenta Paulo. Ele explica que superfícies de tons claros absorvem menos calor e refletem mais luz de volta para a atmosfera, ajudando a diminuir a temperatura local.
Como amenizar os efeitos do calor extremo?
O professor destaca que a população pode colaborar com ações simples no dia a dia para ajudar a conter os efeitos das mudanças climáticas. “Uma das práticas que ainda é comum em algumas regiões é a queima de lixo. Quem faz isso transfere gases de efeito estufa para a atmosfera”, alerta.
Ele também sugere mudanças na forma de construir e adaptar as residências, valorizando os recursos naturais. “Estruturar residências com mais aberturas, aproveitar a luz solar, a ventilação natural, janelas maiores, tudo isso melhora a circulação de ar”, explica. Segundo ele, até o uso do espaço externo pode ser revisto. “O quintal poderia ter árvores ao invés de brita. Muita gente coloca brita, mas ela absorve calor. Árvores tornam o ambiente mais fresco, fazem sombreamento”, informa.
Outra sugestão é o aproveitamento da água da chuva. O professor defende que, se as casas contassem com cisternas, essa água poderia ser usada em tarefas como regar jardins, lavar carros ou dar descarga nos vasos sanitários. “Isso diminuiria o consumo de água potável e de energia, fazendo com que nós colaborássemos para a melhoria dessa questão do aquecimento global”, afirma.
Assista agora mesmo!
Imponente Palacete Schlemm, de Joinville, tem detalhes criados pelo artista alemão Fritz Alt: