Um polvo de amor: artesãs produzem bichos de crochê para bebês prematuros em Joinville

Projeto acontece desde 2017

Um polvo de amor: artesãs produzem bichos de crochê para bebês prematuros em Joinville

Projeto acontece desde 2017

Yasmim Eble

Um Polvo de Amor é um projeto fundado em 2017, em Joinville, que reúne mais de 40 voluntárias que demonstram afeto por meio de pequenos bichinhos de crochê, que são entregues para bebês prematuros.

Inspirado em um movimento que começou na Dinamarca, quatro anos antes, os polvos de crochê são confeccionados e colocados dentro de incubadoras, junto aos bebês prematuros. De acordo com Gizele Corrêa de Figueiredo, idealizadora e presidente da associação em Joinville, há relatos de que os polvos acalmam os bebês.

Na barriga, os bebês tinham o costume de brincar com o cordão umbilical. Então o polvo simula essa forma para que a criança não tire os acessos”, explica a presidente. Para entrar nas incubadoras e maternidades, os polvos precisam ter um tamanho específico.

“A cabeça do polvo precisa ter de seis a dez centímetros. Já os tentáculos podem chegar até 22 centímetros esticados”, explica. As medidas são feitas para garantir a segurança da criança. O cuidado também está na hora de realizar os pontos para fazer o polvo, que precisam estar bem fechados para o bebê não prender os dedos. 

A cabeça do polvo é preenchida com fibra siliconada para aguentar altas temperaturas com o processo de higienização. “É tudo pensando e tendo um padrão. Para ajudar o prematuro”, completa. 

A primeira entrega aconteceu em 2017, com 28 polvos. As entregas começaram no Hospital Infantil Dr. Jeser Amarante Faria e depois foi para outros hospitais públicos e privados de Joinville. Até o momento, 4 mil polvos já foram entregues. 

O projeto também realiza entregas em outras cidades como Araranguá, no Sul de Santa Catarina, Itajaí e até mesmo Curitiba, Londrina e Maringá, no Paraná. 

Quem são as voluntárias

Valdete Berndt conheceu o projeto através de uma amiga da filha, há cinco anos. “Ela colocou o polvo que fez no Facebook, e eu fui conhecendo mais sobre, até ir no primeiro encontro”, conta. Ela já sabia fazer crochê, mas relatou que desmanchou alguns polvos até conseguir pegar a prática. 

“Naquela época ninguém ensinava para a gente, então aprendemos assistindo vídeos e tentando várias vezes”, acrescenta Valdete. Já Iris Bomkowski, vice-presidente da associação, tinha recém perdido o marido e desenvolveu depressão. Até que um dia ela viu uma notícia sobre o projeto. 

Da esquerda para a direita, as voluntárias Diana Silva, Valdete Berndt, Iris Bomkowski, Isabel Florencio e Gizele Corrêa. | Crédito: Yasmim Eble

“Eu já sabia fazer crochê e acabei entrando. Foi uma ocupação para mim e também uma forma de me reerguer. Me doar pelo projeto me salvou”, relata Iris. Segundo ela, nem sempre é possível fazer a entrega, mas o amor pode ser sentido em cada ato. 

Além disso, algumas voluntárias também trabalham de forma solidária no Hospital Infantil, quando é necessário. “Você não vê, mas é possível sentir esse amor. Você consegue ver pelo olhar das enfermeiras a alegria”, relata.

Atualmente, são cerca de 40 voluntárias ajudando o projeto. No entanto, os números variam dependendo de quantas novas voluntárias entram em cada encontro mensal.

Como os polvos são confeccionados

Os polvos são feitos em momentos de lazer das voluntárias, mas para a maioria o crochê virou um vício. “A gente que faz há muito tempo já fica no automático. Eu não consigo ver TV sem estar fazendo crochê”, conta Diana Bernarda Silva. 

Crédito: Yasmim Eble

Cada polvo tem características e cores diferentes, dependendo da artesã que realiza o manuseio da linha. Nos encontros mensais é levado tudo que foi produzido e no local, o material doado é entregue para quem precisa. “Nesses momentos também acolhemos as novas voluntárias, ensinando os truques e o passo a passo de como fazer o polvo”, explica Isabel Florencio. 

Para as voluntárias, o melhor é saber que está fazendo a diferença na vida de uma criança e uma família. “É uma sensação muito gostosa. Recebemos visitas de famílias com os polvos que os prematuros receberam. Ver o bebê saudável e com o polvinho não tem preço”, conta Diana. 

Entrega para as crianças

Além dos prematuros, no Hospital Infantil é realizada a doação dos polvos para as crianças internadas no momento da visita no hospital. “Para os prematuros entregamos uma quantidade suficiente para o mês inteiro”, explica Gizele

Crédito: Yasmim Eble

As entregas são feitas para alegrar crianças que estão internadas no local. “São atos simples que acabam trazendo alegria para esses meninos e meninas. Ver o sorriso deles é muito importante, é emocionante”, relata Isabel.

Para elas, são essas sensações que dão força para que o projeto continue com raízes fortes. Ainda há maternidades que não permitem que os polvos entrem no berçário e na incubadora. “Isso é porque o polvo ainda é visto como um brinquedo e não como um apoio para o prematuro”, conta a idealizadora do projeto.

Uma parte da entrega e do uso do polvo é relacionada com a mãe e o pai da criança. Enquanto o polvo não está na incubadora, ele está no peito da mãe, para que o cheiro dela fique presente no objeto. “Essa é a forma de, quando a mãe ou o pai não estiverem presentes, o bebê continue sentindo o cheiro deles”, explica. 

Projeto de utilidade pública

No dia 27 de julho o projeto será pauta na Câmara dos Vereadores. As artesãs vão apresentar o Um Polvo de Amor no plenário para ser reconhecido como utilidade pública.

Crédito: Maternidade Brigida, de Curitiba

Assim, o projeto se torna mais consolidado e consegue ir atrás de novas parcerias. As doações são feitas de forma independente, não tem uma parceria fixa para a doação de linhas ou dinheiro. A arrecadação é feita normalmente por grupos filantrópicos em alguns períodos do ano. 

Para ajudar o projeto, sendo pessoa física ou jurídica, basta entrar em contato pelo telefone (47) 9-9617-6062, pelo WhatsApp, ou pelas redes sociais oficiais do projeto. Qualquer quantia em dinheiro é suficiente. As artesãs também produzem outros tipos de objetos em crochê com formato de polvo, que são vendidos em feiras no Shopping Mueller anualmente.

Como ajudar

Para quem gostou do projeto, mas não sabe como começar, o projeto Um polvo de amor também ajuda os novos membros que querem aprender crochê e confeccionar os polvos para os bebês prematuros de Joinville e região. 

Para participar, basta entrar em contato pelo telefone (47) 9-9617-6062, pelo WhatsApp, ou entrar no grupo oficial de novas artesãs disponibilizado na bio do Instagram do projeto.

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