Sabrina Quariniri/O Município Joinville

 

Atuação no combate ao crime e fiscalização de trânsito. Essas são as duas linhas de atuação da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Para ajudar a destrinchar melhor como funciona a corporação, a reportagem do jornal O Município Joinville conversou com Rafael José Siquela, chefe do Núcleo de Policiamento e Fiscalização (NPF) da unidade administrativa da região de Joinville. 

A PRF é uma instituição policial ostensiva que responde ao Ministério da Justiça e Segurança Pública. Sua principal função é garantir a segurança nas rodovias federais e em áreas de interesse da União.

Abaixo do guarda-chuva da delegacia de Joinville, há três unidades operacionais, que executam o trabalho diário: a de Joinville, localizada em Pirabeiraba, a de Barra Velha e a unidade de Guaramirim. Além disso, a delegacia do município é responsável pela BR-101, de Garuva até Penha, e BR-280, de São Francisco do Sul até Corupá.

Sabrina Quariniri/O Município Joinville

Siquela explica que, dentro das duas linhas de atuação, o trabalho é dividido entre execuções reativas e ativas. No trabalho reativo, a PRF é demandada para um acidente de trânsito ou via denúncia, onde as equipes operacionais precisam atuar quando há interrupção de pista durante uma manifestação ou acidente, por exemplo.

“Uma das missões da PRF é manter a livre circulação. Precisamos garantir que o trânsito flua”, destaca Siquela.

No trabalho ativo, proveniente do planejamento da corporação, são feitas fiscalizações na parte de identificação de pontos críticos da rodovia, como locais onde ocorrem mais acidentes e as categorias de veículos mais acidentados.

Ocorrências atendidas e projetos

Siquela afirma que na região atendida pela delegacia de Joinville há dois pontos mais propícios a acidentes, ambos na BR-280: Araquari e Guaramirim. Dentro disso, são criados planejamentos destinados a essas regiões, de modo a minimizar as ocorrências nestes locais.

Em 2019, foram 242 acidentes atendidos pela instituição; em 2020, 230, e neste ano, até o momento, 75. O chefe do NPF diz que há locais que apenas a presença de uma viatura já é suficiente para conter infrações e acidentes na rodovia.

Além da redução de acidentes, consequência também da pandemia e, consequentemente, número menor de movimentação nas rodovias, Siquela cita como grande conquista a apreensão de drogas na região de Joinville: foram dez toneladas. Número representa 30% do total apreendido no estado.

Quando ocorrem situações de graves acidentes e há feridos, mesmo que a PRF tenha treinamento de primeiros socorros, os atendimentos ficam por conta dos socorristas da concessionária Arteris Litoral Sul, na BR-101, ou pelos bombeiros voluntários “que executam um excelente trabalho”, elogia.

“A nossa responsabilidade é sinalizar o local. Fazemos o boletim e, em Santa Catarina, se for demandado, a perícia do acidente também. Atuamos do atendimento e confecção do boletim, com a dinâmica do acidente, à fiscalização de trânsito, como verificar os documentos do veículo, a condição do motorista, se está alcoolizado ou tem mandado de prisão, e condição dos veículos. Além disso, vemos se o motorista estava alcoolizado, com mandado de prisão…”, afirma.

“Já aconteceu de pegarmos veículo transportando droga que estava envolvido em acidente. Então a fiscalização de trânsito e crime, na verdade, estão interligadas”, pontua.

Para este ano, com mudanças no departamento no âmbito federal, os projetos serão destinados a dar continuidade ao trabalho já realizado pela PRF. Em âmbito local, o enfoque é o aumento na fiscalização tanto de trânsito, quanto questão de combate ao crime, diz.

Função dinâmica

O chefe do Núcleo de Policiamento e Fiscalização conta que o dinamismo faz parte da rotina do PRF. Uma simples fiscalização de rotina, pode evoluir para uma ocorrência criminal, com apreensão de armas e drogas. Este é um dos desafios de atuar em uma atividade tática.

“Eu sei que vou atuar em um nível mais elevado de estresse, já estou preparado para confusão”, cita o policial. “Muitas vezes, temos que sair de uma abordagem normal a uma família, de conferência de documentos, e daqui a pouco essa mesma abordagem evolui para uma situação grave, contra uma quadrilha. É um desafio pessoal o policial conseguir fazer essa moderação de uma maneira que não fira os direitos de ninguém”, reconhece.

Sabrina Quariniri/O Município Joinville

As abordagens, salvo em caso de denúncia, acontecem rotineiramente, a qualquer veículo ou pessoa, garante o PRF. “Algumas pessoas até ficam ofendidas, mas esta é a doutrina da PRF”, defende.

Baixo efetivo

Dentro deste dinamismo, a PRF também conta om apoio de outras forças de segurança, como as polícias Militar, Civil e Federal. Siquela diz que é muito comum que em outros estados essas polícias não se conversem. Além da boa convivência entre esses efetivos e as indispensáveis trocas de informação, o policial diz que isso ocorre pela falta de efetivo da PRF que, segundo ele, é histórica.

Ele conta que isso se dá pela dificuldade em realizar concursos e também pela baixa procura pela área. No entanto, recentemente, ocorreu um concurso onde foram abertas de 1.500 a 2 mil vagas. A esperança é a vinda desses novos integrantes para somar durante as fiscalizações.

“Tem sido rotineiro as equipes trabalharem com pouco efetivo, com dois policiais por plantão. Pelo movimento que temos aqui na região Norte, é pouco. Portanto, o apoio da PM, por exemplo, é importante, e sempre resulta em otimização dos resultados”, aponta.

Diferente do Oeste do estado, a quilometragem da área de Joinville é menor, no entanto, o movimento é maior, ele explica.

Apesar da baixa no efetivo, Siquela diz ter a felicidade de trabalhar com uma equipe “comprometida com as duas áreas de atuação”, elogia. “É um pessoal diferenciado mesmo, equipe proativa, que gosta do trabalho, que se compromete durante atuação. Então, facilita a tomada de decisão, no planejamento, temos a certeza que o efetivo vai conseguir colocar em prática”.

Trajetória

Natural de Joinville, mas criado no Rio Grande do Sul, Rafael José Siquela entrou para a PRF em 2012, logo após concluir a faculdade de comércio exterior.

Ele conta que nunca havia pensado na possibilidade de trabalhar na PRF, já que sua meta até então era prestar concursos públicos. No entanto, após oito anos trabalhados na previdência do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), resolveu mudar os rumos.

Sabrina Quariniri/O Município Joinville

“Era uma parte mais administrativa, só processo, só papelada, e neste tempo vi que esta área administrativa não era para mim, não. Mas assim que entrei (na PRF) me identifiquei muito com a atividade, com a força de trabalho e a liberdade que se tem para atuar. Atualmente não me imagino em outra atividade”, frisa.

Após dois anos atuando em Vacaria (RS), onde iniciou a carreira de PRF, Siquela retornou a Joinville, no final de 2014. Aqui, atuou na escala operacional, depois participou por dois anos do Grupo de Policiamento Tático (GPT), equipe com mais foco no combate ao crime. Em agosto, completará oito anos como chefe do NPF, cargo onde tem contato mais direto com o dia a dia do efetivo, montagem das equipes e planejamento de operações de trânsito e combate ao crime.

“O meu cargo é um cargo para se estar junto lá na pista. Não tiro plantão lá, atualmente estou fazendo um horário mais comercial, mas no dia a dia normal pego a viatura passo nas unidades, fiscalizo junto e participo dos comandos. Funciona conforme a demanda”, explica.

Assim como a sua profissão, seu cargo também é muito dinâmico. Siquela explica que pode voltar a atuar na pista novamente, por exemplo. E isso jamais será um problema para ele, já que deixou claro que atua na instituição por amor e quando pode está junto na rua.

“Tenho colegas que postam fotos nas redes sociais do escritório, que é o trecho”, brinca. “E para mim, é uma das grandes vantagens, ter essa atividade externa. A PRF é umas das mais capitalizadas do país, para pessoa com disposição, ela vai acabar sempre tendo a oportunidade de trabalhar em locais que não conhecia se não fosse pela função”, finaliza.