Yasmim Eble
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“A amamentação para mim sempre foi algo grandioso. De uma abnegação e entrega da mãe pelo filho”, relata a joinvilense Geandra Nara dos Santos Mattei, de 29 anos. Ela sofreu um aborto espontâneo na primeira gravidez e quando descobriu a gravidez de Joaquim, agora com oito meses, viu um recomeço, mas também novos desafios. Por meio da amamentação, ela se conecta com o bebê.
Joaquim é um bebê arco-íris. A criança é chamada assim porque foi o primeiro filho de Geandra após o aborto espontâneo, na primeira gravidez aos 24 anos. “Por mais que fosse uma surpresa a gestação, perdê-la não foi fácil lidar. Houve um momento em que me culpei pela perda”, relata.
Segundo a joinvilense, levou muito tempo para que ela e o marido se recuperassem do sentimento angustiante. “A época foi triste para nós dois, mas fortalecemos ainda mais nossa união, éramos o apoio um do outro”, conta. Joaquim nasceu cinco anos depois e deu um novo significado à vida do casal.
Para ela, a gestação foi ainda mais especial por dar significado a um sonho. “Minha mãe faleceu quando eu tinha três anos, mas sempre ouvi do meu pai que minha mãe me amamentou até os dois anos. Eu queria realizar isso também”, conta.
Por conta da gestação anterior, algumas preocupações se tornaram presentes. Geandra passou por um momento pós-gestão chamado de “baby blues”, que se configura em uma instabilidade emocional causada por fatores hormonais.
Os sintomas eram semelhantes a crises de ansiedade e até mesmo de fobia social. Por conta disso, Geandra resolveu contratar uma consultora de amamentação, que a ajudou e orientou sobre a amamentação.
“Eu recebi um apoio que foi crucial, fez com que qualquer medo ou insegurança quanto a amamentar desaparecesse. Me senti muito mais preparada”, explica Geandra. Para ela, todos os momentos de amamentação são terapêuticos e especiais.
Com apoio, Geandra passou a ver os momentos de amamentação de forma mais tranquila e os sintomas sumiram. “Não há nada parecido com o sentimento de saber que você é a fonte de sobrevivência do seu filho. Pode ser exaustivo no começo, mas não há preço que pague”, completa.
Amor, carinho e afeto
Com nutrientes, vitaminas e minerais suficientes para gerar anticorpos e proporcionar imunidade, o leite materno é o melhor alimento que os bebês podem receber. Geandra relata que a amamentação também resultou em uma conexão maior com o filho Joaquim. “A amamentação é uma entrega de amor, carinho e afeto”, conta Geandra.
Com oito meses, Joaquim está na introdução alimentar, no entanto, o leite materno continua sendo um dos principais alimentos. A joinvilense relata que continuará amamentando-o até os 2 anos, como a mãe um dia fez com ela.
“Nosso bebê arco-íris foi o melhor presente para a gente e quero dar todo o apoio e carinho possível para ele”, conta. Com a amamentação, Geandra conseguiu se doar ao filho, mesmo surgindo dificuldades. A conexão com Joaquim é feita dia após dia.
“Nossos filhos sentem nosso coração, nosso toque e nosso olhar materno para eles. A amamentação é um ato lindo, de amor incondicional e altruísmo de qualquer mãe para o seu filho”, completa.
Agosto Dourado
O Agosto Dourado é uma campanha promovida pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) dedicada ao aleitamento materno no Brasil. A cor dourada está relacionada ao padrão ouro da qualidade do leite materno: estudos comprovam que ele é capaz de salvar vidas de cerca de 13% das crianças, menores de 5 anos, em todo o mundo.
“Apoiar e promover a amamentação vai além de incentivar. O pediatra deve ter claro que o leite materno é o padrão-ouro da nutrição infantil e que atualização constante sobre o assunto leva ao sucesso da amamentação. Principalmente porque amamentar não é uma tarefa fácil”, ressalta Renata Gonçalves Ribeiro, pediatra, neonatologista e coordenadora médica da UTI neonatal do Hospital Dona Helena, de Joinville.
Além de possuir os nutrientes básicos essenciais, como hidratos de carbono, proteínas e gorduras, bem como água, o leite materno possui milhões de células vivas que auxiliam no desenvolvimento e regeneração dos órgãos. “O leite materno é e sempre vai ser o alimento ideal para iniciar a dieta de um bebê. É o alimento mais completo, vivo e ativo”, detalha Renata.
Segundo a médica, um bebê deve receber leite materno exclusivo até o sexto mês. A partir de então, a alimentação complementar deve ser introduzida. “Mas se estimula que o leite materno seja mantido até dois anos ou mais, depende de cada caso”, aponta.
Para Renata, as mães precisam se empoderar em função da maternidade. “Normalmente o leite seca na cabeça antes de secar no peito. A mãe precisa ter muita vontade, ver que aquela criança tem necessidades para enfrentar essa transição do período fetal para o meio extrauterino”, conta.
O incentivo à amamentação também é necessário para o abastecimento dos bancos de leite. “Eles coletam o leite de doadoras, processam e pasteurizam o leite para que possa ser fornecido para crianças com diagnósticos como, por exemplo, prematuros internados em UTI neonatal. Os profissionais que atuam nos bancos de leite estão preparados também para ajudar as mães com as questões de amamentação, dando as melhores orientações”, informa.