Uso de bandeira de guerra alemã em desfile em São Bento do Sul gera polêmica; polícia investiga

Caso ocorreu neste último sábado

Uso de bandeira de guerra alemã em desfile em São Bento do Sul gera polêmica; polícia investiga

Caso ocorreu neste último sábado

Bernardo Gonçalves

O uso de uma bandeira de guerra alemã no desfile da 40ª Schlachtfest, festa típica alemã realizada em São Bento do Sul, gerou polêmica por uma suposta ligação do item com o nazismo. O caso ocorreu neste último sábado, 7.

Conforme imagens que circulam nas redes sociais, um grupo de seis pessoas estava em um carro. Eles utilizavam roupas e outros objetos típicos da Alemanha e a bandeira ficou posicionada ao lado direito do veículo. A polêmica iniciou quando usuários associaram a bandeira ao nazismo.

Em contato com a reportagem do jornal O Município Joinville, o delegado da Polícia Civil de São Bento do Sul, Gil Rafael Ribas, informou que já iniciou uma investigação para apurar o caso.

“A Polícia Civil possui pleno conhecimento das notícias que vêm sendo veiculadas em redes sociais sobre uma suposta alusão ao nazismo durante o desfile da Schlachtfest e está averiguando as circunstâncias para apreciação se há ou não indícios de um delito”, relata.

Em nota publicada nesta segunda-feira, 9, a Sociedade Ginástica e Desportiva São Bento, organizadora da 40ª Schlachtfest, nega veementemente que a bandeira seja nazista e ressalta que a instituição condena qualquer manifestação que faça apologia a ideologias que pregam o ódio e a exclusão.

A bandeira

Na nota, a sociedade cita o professor Wilson de Oliveira Neto, historiador e doutor em Comunicação e Cultura pela ECO/UFRJ. Ele diz que a bandeira exibida no desfile é uma representação da “Reichskriegsflagge”.

“Em uma tradução livre para o português, Bandeira Militar Nacional, a bandeira de guerra do Império Alemão, em uso entre os anos de 1870 e 1918, sendo suas cores branca e preta, pois representam as cores do Reino da Prússia (1701-1918), que liderou o processo de unificação dos antigos Estados Alemães”, resgata.

“Durante o regime nacional-socialista, de 1933 a 1945, a bandeira foi reintroduzida quando da criação da Wehrmacht, em 1935. Como ocorreu com os demais símbolos alemães anteriores ao Nazismo, a Reichskriegsflagge foi nazificada, sendo a águia imperial alemã substituída pela suástica e as cores da Prússia trocadas pelas cores da bandeira nazista, vermelha, preta e branca”, finaliza.

A reportagem de O Município Joinville falou com Karl Schurster, professor e doutor em História da Universidade de Pernambuco (UPE) e autor do livro “O fenômeno nazi e seu impacto na historiografia do tempo presente”. Ele também explica que a bandeira em si não é nazista. Contudo, na interpretação dele, o uso do símbolo pode ser entendido como nazista. “Seu uso, tanto na época do nazismo e especialmente hoje, o são pelo que ela significou”, analisa.

Schurster conta ainda que o uso da bandeira foi comum no Terceiro Reich, nome dado ao regime nazista que governou a Alemanha entre 1933 e 1945. Por isso, o professor entende que a bandeira não deve ser utilizada, mesmo sendo encontrada em lojas virtuais.

“Ela (a bandeira) fez parte do Reichskriegsflagge e seu uso estava muito associado ao século XIX, a Prússia e a guerra. Foi um estandarte de guerra no mesmo formato em preto e branco, na primeira grande guerra. Seu formato original, que compõe o vermelho, a cruz e a águia são prussianas, mas representam império, domínio, guerra”, detalha.

“É lamentável ver que o nacionalismo fascista é sempre resgatado de tempos em tempos. A simbologia pode não ser propriamente nazista, mas foi reapropriada por eles e é esse o sentido que ficou”, finaliza.

Confira a nota da organização na íntegra:

A Sociedade Ginástica e Desportiva São Bento vem a público reafirmar seu compromisso com a ética, o respeito e a dignidade humana. Esclarecemos que a nossa instituição não compactua, nunca compactuou e repudia qualquer forma de apologia, preconceito ou discriminação.

A associação condena com veemência qualquer manifestação que faça apologia a ideologias que pregam o ódio e a exclusão.

Nada obstante, esclarecemos com igual veemência que não se trata, em ABSOLUTO, de uma bandeira nazista. Nas palavras do professor Wilson de Oliveira Neto, historiador e doutor em Comunicação e Cultura pela ECO/UFRJ, “Desde que foi fundada, em 1871, a Alemanha possui diversas bandeiras históricas, muitas delas de natureza militar. Aquilo que foi exibido no desfile era para ser uma representação da Reichskriegsflagge, em uma tradução livre para o português, Bandeira Militar Nacional, a bandeira de guerra do Império Alemão, em uso entre os anos de 1870 e 1918, sendo suas cores branca e preta, pois representam as cores do Reino da Prússia (1701-1918), que liderou o processo de unificação dos antigos Estados Alemães. Durante o regime nacional-socialista, de 1933 a 1945, a bandeira foi reintroduzida quando da criação da Wehrmacht, em 1935. Como ocorreu com os demais símbolos alemães anteriores ao Nazismo, a Reichskriegsflagge foi nazificada, sendo a águia imperial alemã substituída pela suástica e as cores da Prússia trocadas pelas cores da bandeira nazista, vermelha, preta e branca.”

Ainda assim, tomaremos todas as medidas necessárias para continuar coibindo alusões ou tentativa de alusões a quaisquer apologias contrárias à legislação brasileira.

Reiteramos, por fim, o nosso compromisso com a sociedade e nossa luta constante pela promoção de uma convivência pacífica, justa e inclusiva.

Atenciosamente,
Sociedade Ginástica e Desportiva São Bento
Organizadora da 40ª Schlachtfest

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