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Usuários são pegos de surpresa com queda da liminar que liberava transporte público, em Joinville

Como decisão saiu no final da noite, teve quem só soubesse ao chegar no terminal

Após o Tribunal de Justiça de Santa Catarina acatar o recurso do governo do estado e suspender a liminar que permitia o retorno do transporte público em Joinville no final da noite de domingo, 12, algumas pessoas foram pegas de surpresa com a decisão na manhã desta segunda-feira, 13.

Evelise Braga, 45 anos, viu pela televisão que os ônibus voltariam a operar a partir desta segunda-feira, mas, ao chegar no terminal do Itaum, foi alertada por um fiscal que os ônibus não estavam funcionando. Evelise descobriu um câncer no umbigo no fim do ano passado e está em tratamento na oncologia do Hospital São José.

“Eu não sabia dessa liminar, e muita gente ainda não sabe. Até o dia da minha operação, eu preciso fazer meu tratamento. E agora?” questiona.

Evelise precisa ir à oncologia toda semana, mas, por conta da suspensão dos ônibus, está há duas semanas sem fazer o tratamento. Ela, que trabalhava como cozinheira, foi cortada da empresa e, desde então, sobrevive com a ajuda das filhas.

Evelise Braga descobriu câncer no umbigo no fim do ano passado. Sabrina Quariniri / O Município Joinville

“Não sou casada e moro com a minha mãe. Minhas filhas me ajudam com R$ 150 por mês, mas não sobra para pagar Uber. O jeito é esperar o ônibus da saúde, que só sai ao meio-dia”, conta.

Márcio José do Carmo, 38, mora próximo ao terminal do Itaum e aguardava o transporte para ir ao trabalho em um ponto de ônibus na rua Monsenhor Gercino. Ele foi alertado pela reportagem que não haveria serviço de transporte.

“Eu já perdi um emprego em uma indústria aqui de Joinville por causa do coronavírus. Pelo jeito, não vou ter sorte com este também. Estamos sobrevivendo porque minha esposa trabalha na área da saúde, mas não sabemos até quando”, conta ele.

O casal é natural de Belém (PA) e paga aluguel. Caso a situação não melhore nos próximos dias, Carmo cogita voltar à cidade natal.

“Se não melhorar, vou ter que voltar pra minha terra, lá pelo menos eu tenho casa própria. Aqui o aluguel é muito caro”, se queixa.

Sabrina Quariniri / O Município Joinville

Antes das 8 horas, de acordo com um fiscal que estava no terminal do Itaum, cerca de 20 pessoas já haviam passado pela estação sem a informação de que o serviço de transporte público continuava suspenso.

Justificativa do estado

Em justificativa à decisão, o desembargador Luiz Zanelato, do TJ-SC, lembrou que o município não se manifestou contrário ao decreto (a liminar foi conquistada pelas empresas) e citou que Joinville está entre as três cidades com mais casos confirmados de coronavírus em Santa Catarina.

“Neste contexto, não se pode ignorar a possível influência que a liberação do transporte municipal/intermunicipal pode ocasionar no índice de contágio do coronavírus”.

Zanelato decidiu pela suspensão da liminar até que um órgão colegiado faça o julgamento definitivo do caso.

Linhas de saúde permanecem

Por volta das 23h, em nota conjunta, as empresas de ônibus se manifestaram, informando a continuidade da suspensão do serviço. Confira a nota na íntegra:

“Em virtude da decisão do Tribunal de Justiça que atendeu a recurso do governo do Estado e suspendeu a liminar 2ª Vara da Fazenda Pública de Joinville, está suspenso o retorno do transporte coletivo de Joinville. Dessa forma, continuam em operação apenas as seis  linhas do serviço do ‘Ônibus Circular da Saúde’”.