Vanessa da Rosa, segunda mulher negra na Alesc, faz balanço de breve mandato
Projetos apresentados por Vanessa são voltados ao povo negro, às mulheres e à educação
Após 33 dias na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), a então deputada estadual joinvilense Vanessa da Rosa (PT-SC) concluiu o breve mandato. Ela é a segunda mulher negra a ocupar uma cadeira no Legislativo catarinense. Vanessa fez um balanço das ações apresentadas durante o período.
A primeira vez que uma mulher negra assumiu um mandato na Alesc foi em 1934, com a pioneira Antonieta de Barros. Vanessa celebra a continuidade do legado deixado por Antonieta e diz esperar que mais mulheres negras tenham espaços nos poderes Legislativos espalhados pelo Brasil.
“Ficamos quase um século sem uma mulher negra na Alesc e isso não pode ser normalizado. Temos que potencializar mais mulheres negras a entrarem na política. Me sinto orgulhosa de poder dar continuidade ao legado de Antonieta de Barros”, comemora.
A ex-deputada diz que a necessidade de favorecer a participação das mulheres na política passa também pelo próprio poder público e, por outro lado, lamenta o baixo quantitativo feminino na Câmara dos Deputados, sobretudo quando se tratam de mulheres negras.
“Espero que não pare em mim. Espero que venham outras Vanessas e outras Antonietas”, valoriza. “O ambiente do parlamento no Brasil ainda não favorece a inserção das mulheres. Temos 30% de reservas de vagas para sermos candidatas, mas não temos 30% das cadeiras”, lamenta.
Projetos apresentados
A educação, defesa do povo negro e as políticas públicas voltadas às mulheres são bandeiras de Vanessa. Ela afirma que conseguiu protocolar um projeto para cada pauta que é defensora. A ex-deputada demonstra satisfação por ter fomentado aquilo que foi prometido na campanha eleitoral.
“Foi uma experiência extremamente significativa, gratificante e simbólica. Foram 33 dias intensos. Claro, em 33 dias não conseguiria fazer tudo que almejava. Não consegui participar de muitos eventos, mas, por outro lado, defendi as pautas de campanha”.
Um dos projetos apresentados no Legislativo catarinense é destinado aos estudantes. O objetivo é que o transporte coletivo seja gratuito em todo o estado nos fins de semana em que é realizada a prova do Enem.
“É muito triste quando os nossos jovens não conseguem chegar aos locais das provas, muitas vezes, por não terem dinheiro para pagar passagem. Sabemos o quanto o transporte coletivo impacta no orçamento doméstico das famílias mais carentes”, justifica.
O empreendedorismo voltado aos negros foi outro assunto tratado pela ex-deputada durante o mandato. Ela também defende que sejam criados espaços acolhedores para as mães que trabalham em período noturno, por exemplo.
Os espaços acolhedores, segundo Vanessa, não se tratam de centros de educação infantil. A ideia é que as mães que trabalham durante a noite ou precisam levar os filhos para as atividades do dia a dia tenham o espaço acolhedor como um auxílio.
“Quando as crianças não estão com as mães, elas estão em casa, sozinhas. É criança cuidando de criança. Temos que pensar neste público, pois as mães precisam trabalhar e o serviço noturno é cada vez mais presente. Precisamos pensar nestas crianças e nestas mães”, comenta.
A ex-deputada também cumpriu agenda em Brasília durante o período na Alesc. Ela se encontrou com o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, e com a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves. Com Cida, foi abordado o combate à violência contra a mulher em SC.
Lobby de entidades
Vanessa deixou na Alesc ainda um projeto de lei para tornar o Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro, feriado estadual. Segundo o colunista Raul Sartori, porém, a proposta não agrada entidades empresariais, que tentam, nos bastidores, barrar o projeto. Trata-se de uma prática conhecida como lobby.
“O dia 20 de novembro não é um dia de comemoração. É uma data para celebrarmos a memória de Zumbi dos Palmares. É um dia de reflexão, para olharmos para trás e entendermos que tivemos quase quatro séculos de escravidão neste país e que ainda hoje sentimos os reflexos deste período”, explica.
Lobby é o ato que ocorre quando pessoas buscam influenciar políticos a atenderem interesses particulares. “Não parece haver conteúdo racista na ação patronal. Só não quer mais um feriado prejudicando a produção. Simples assim”, escreve Sartori na coluna, publicada no jornal O Município Joinville.
Para a ex-deputada, a postura das entidades não é legítima. Ela questiona quais são os estabelecimentos que fecham nos feriados. Vanessa afirma que, independente se a data é feriado ou não, as pessoas trabalham do mesmo jeito.
“As perdas são muito pequenas. [As entidades] falam isso, provavelmente, pois se colocam funcionário para trabalhar no feriado precisam pagar uma porcentagem a mais. Não vão deixar de ter lucro porque dia 20 é o dia da Consciência Negra”, protesta a ex-deputada.
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