Veja perguntas e respostas sobre o fungo negro, doença investigada em paciente de Joinville
Homem de 52 anos apresentou suspeita da doença após contrair Covid-19
Depois que a Secretaria de Saúde de Joinville comunicou no último dia 29 de maio que está investigando um caso suspeito de fungo negro, as pesquisas sobre o assunto no Google dispararam, de acordo com a plataforma Google Trends.
O que é fungo negro, os sintomas e como se contrai a doença estão entre os principais itens buscados pelos usuários na plataforma.
Em vídeo divulgado pela Prefeitura de Joinville no Instagram, o infectologista Marcelo da Silva Mulazini explica que a doença tem chamado a atenção das autoridades após o aumento no número de casos na Índia.
Por conta desse aumento expressivo da doença, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e equipes de pesquisadores estão verificando possíveis correlações com a Covid-19.
Confira abaixo perguntas e respostas sobre a infecção.
O que é fungo negro?
A mucormicose (zigomicose), conhecida também como fungo negro, é uma infecção rara causada por fungos, que em casos graves pode evoluir para coma e óbito.
O médico Danilo Abreu, que é superintendente médico assistencial do Hospital Dona Helena e especialista em clínica médica e gastroenterologia, explica que a incidência é difícil de ser estimada porque até então não é uma doença de notificação obrigatória.
O infectologista diz que devido ao aumento repentino dos casos na Índia, os governos têm começado a investigar as suspeitas, apesar de a notificação não ser obrigatória.
É contagioso?
De acordo com Abreu, o fungo não é contagioso e não é transmitido de pessoa para pessoa.
O infectologista explica que a contaminação é aérea, mas como não é transmissível, não é necessário fazer isolamento como ocorre com pacientes infectados pelo coronavírus, por exemplo.
Quais são os grupos de risco?
Segundo Abreu, o risco varia em diferentes populações. “Uma revisão de 929 casos de mucormicose reportados entre 1940 e 2003 notou que diabetes mellitus é o fator de risco mais comum (36% dos casos), seguido de doenças hematológicas malignas (17%) e transplantados de órgãos sólidos ou células hematopoiéticas (12%)”, diz o médico.
Confira a lista dos grupos de risco:
Diabetes mellitus (particularmente com cetoacidose);
Tratamento com corticosteróides;
Doenças malignas hematológicas;
Transplantados de células hematopoiéticas (medula óssea) e órgãos sólidos;
Tratamentos com deferoxamina, um quelante de ferro utilizado para algumas patologias que causam acúmulo de ferro no organismo;
Qual a relação entre o fungo negro e a Covid-19?
Abreu diz que também há riscos associados após desastres naturais como tornados, tsunamis e erupções vulcânicas, após ferimentos por explosões, como em guerras.
“E após vários dias a algumas semanas pós-internações por quadros de Covid-19, como tem sido relatado em alguns casos pelo mundo. A relação entre as duas doenças, mucormicose e Covid-19, ainda não é clara, mas parece razoável a hipótese que é uma infecção secundária (oportunista) surgida em um paciente gravemente enfermo após uso de corticosteróides”, esclarece Abreu.
Ele pontua que pessoas imunocomprometidas são mais suscetíveis à infecção, mas isso não quer dizer que todo paciente imunocomprometido ou pós-Covid-19 terá a mucormicose.
Que tipo de fungo causa a infecção?
Abreu diz que vários tipos de fungos podem causar a doença. “E estes não são prejudiciais para a maioria das pessoas, todos os humanos têm ampla exposição a esses fungos durante atividades do dia a dia”.
O médico infectologista explica que o fungo pode estar em qualquer ambiente, como no solo e em algumas plantas. Ele forma um tipo de bolor, podendo estar presente em locais com mofo.
Por que o fungo negro é raro?
“O fato de a mucormicose ser uma infecção humana rara reflete a eficácia do sistema imunológico humano intacto”, diz o médico. Segundo ele, essa informação ainda se apoia no fato de que quase todas as mucormicoses ocorrem na presença de condições que comprometem o sistema imunológico.
Quais são os sintomas do fungo negro?
Os sintomas do fungo negro podem incluir dor, febre, celulite orbitária (no entorno do olho), proptose (protrusão do globo ocular), oftalmoplegia (paralisia do movimento do olho), perda da visão, secreção nasal purulenta e necrose de mucosas.
Conforme explica Abreu, a doença é caracterizada por inflamação, infarto e necrose dos tecidos – os fungos invadem, principalmente na região nasal (septo nasal), palato (céu da boca), ossos que circundam os olhos ou os seios da face (cavidades aéreas bilaterais e muitas vezes simétricas que circundam as fossas nasais, local onde ocorre uma patologia comum denominada de sinusite).
A mucormicose também pode acometer outros órgãos, como cérebro, pulmões, gastrointestinal, renal, entre outros.
Como é feito o diagnóstico?
A identificação do fungo é feita por meio da análise do tecido acometido, “desde que o paciente tenha manifestações compatíveis dentro do seu contexto clínico”, explica o médico.
Como funciona o tratamento?
Abreu explica que o tratamento do fungo negro envolve uma combinação de procedimentos cirúrgicos e terapia antifúngica. “Assim como a eliminação ou controle de fatores que podem predispor para infecção, como hiperglicemia (glicose alta), alterações metabólicas (acidose), administração de deferoxamina, medicamentos imunossupressores e neutropenia”.
Para o tratamento, o antifúngico mais utilizado inicialmente é a anfotericina B lipossomal intravenosa.
A população deve se preocupar?
O infectologista enfatiza que a população não precisa se preocupar com o fungo negro no momento. “O que é importante é cuidar com bolor e mofo em casa, manter ambientes bem arejados”, finaliza.
Suspeita em Joinville
O paciente com suspeita de mucormicose em Joinville tem 52 anos. Ele possui histórico de comorbidades (diabetes mellitus e artrite reumatoide) e começou com os sintomas gripais no dia 20 de fevereiro. Três dias depois, um teste confirmou que ele estava com Covid-19.
No dia 19 de março ele precisou ser internado, pois sofria com fraqueza generalizada relacionada ao coronavírus. Ele teve alta do hospital particular no dia 4 de abril, com melhora geral do quadro de saúde.
Por ter apresentado cetoacidose diabética, que é uma complicação metabólica caracterizada por fatores relacionados com a diabetes, o paciente teve uma celulite facial, que prejudicou parcialmente a acuidade visual.
Um médico especialista começou o acompanhamento imediatamente e ele foi internado novamente no dia 21 de maio. Uma cirurgia para tentar recuperar a visão dele foi realizada no dia 26.
O paciente segue internado em um hospital particular, com monitoramento constante da Secretaria Municipal da Saúde, por meio da equipe da Vigilância em Saúde. As informações seguem sendo compartilhadas com o Ministério da Saúde e com a Secretaria de Estado da Saúde.
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