“Às vezes, o que parece ser o mocinho pode não ser”: conheça a rotina do 17° Batalhão da PM de Joinville
Comandante Paulo Roberto Bilinstk Grams fala sobre a rotina dos policiais e planos para o futuro
“Quando somos acionados, via de regra, nunca é um momento de muita alegria. Na maioria das vezes são situações de conflito, e nosso policial precisa se habituar a isso. É aquele ditado: transformar o limão em uma limonada, quase que diariamente”, brinca, em tom de seriedade.
Horas mal dormidas, cargas horárias estendidas e situações estressantes fazem parte do cotidiano do policial militar. Mesmo inserido neste ambiente conturbado, Paulo defende que a tropa precisa atuar com paciência.
Para ele, mais do que uma missão, a PM tem a vocação de, 24 horas por dia, “servir e proteger” a comunidade, como diz o lema, e o comandante é um dos responsáveis para que esta tarefa seja desempenhada da melhor forma possível.
“Equilíbrio dentro da tropa é fundamental pra nós. Faz com que a tropa esteja tranquila mesmo em meio a uma situação tensa, que exige muita técnica e conhecimento. Essa resiliência que os policiais precisam ter em todo momento é fruto de toda constância do batalhão, que se dá pela figura do comandante. Os policiais precisam de um ambiente de trabalho agradável e familiar”, enfatiza.
Reaprendendo a conviver
Com a pandemia da Covid-19, uma nova missão foi adicionada na lista de incumbências do comandante: assim que chega ao quartel, higieniza a mesa e o chão de seu escritório.
No campo operacional, além das fiscalizações em estabelecimentos comerciais para o controle do uso de máscaras e aglomeração, conforme Paulo, houve aumento no número de ocorrências relacionadas a perturbação do sossego e brigas entre vizinhos e familiares.
Ele conta que as guarnições foram colocadas à prova com a chegada da doença, já que policiais também atuaram na linha de frente. A área de comunicação foi a mais afetada, pois o contato com as pessoas precisou ser reduzido. Para ele, no entanto, muito além dos desafios e incertezas, a pandemia também serviu como aprendizado.
“A pandemia trouxe uma lição para o ser humano: reaprender a conviver. Muitas pessoas estavam juntas, mas não estavam convivendo, porque saíam de manhã para trabalhar e voltavam à noite, para dormir. E a pandemia trouxe consigo esse negócio de novamente voltar a conviver em casa, no mesmo ambiente. As pessoas tiveram que se tolerar e conversar”, expressa.
Conforme Paulo, a Operação Covid foi a maior já estabelecida pela corporação até o momento. Desde meados de março do ano passado, há equipes destinadas apenas para fiscalização.
“A pandemia foi um fato real, não há dúvidas quanto a isso. E a PM foi muito demandada, principalmente no início. Nossa cultura local é de ter contato, a pandemia acabou fazendo o caminho inverso. As pessoas ficaram sem lazer, sem área cultural, áreas afetadas até hoje, e a paciência das pessoas foi ficando curta. Mas a qualidade do nosso efetivo ajudou muito para que resolvêssemos de forma amena a maioria das situações”, afirma.
Evitar estereótipos
Das inúmeras ocorrências policiais atendidas por dia, muitas podem ter características parecidas, como as que envolvem roubo, por exemplo. O comandante defende que, mesmo nesses casos, as situações precisam ser analisadas separadamente, fazendo com que os policiais fujam de estereótipos.
“O policial tem que ter a capacidade de entender que todas as ocorrências, apesar de parecidas, são inéditas. Não se pode ter preconceito. Os elementos são diferentes, às vezes, o que parece ser o mocinho pode não ser”, ressalva.
Atuando em prol da sociedade, a Polícia Militar tem como carro-chefe atividades preventivas, ao contrário de corporações como a Companhia de Patrulhamento Tático (CPT), como explica Paulo, que tem como característica a intervenção rápida.
Ainda assim, os militares acabam se deparando com situações de risco no cotidiano, inclusive da própria vida, onde um descuido ou atitude errada podem colocar à prova toda a operação.
“Nós tratamos todos de maneira igual, independente de classe social ou vocação, inclusive o apenado. Obviamente que quando a gente intervir é em função da defesa da vida. Muitas vezes, em confronto, quando a pessoa resolve ir contra a guarnição e pode colocar a vida do policial e das pessoas que estão envolvidas na situação em risco, temos que agir”, afirma.
Mas ele conclui dizendo que o policial só dispara um tiro em última instância, quando não há mais técnicas ou ferramentas para controlar a situação.
“Nós não queremos isso, mesmo com aquele que está cometendo o crime. Não nos agrada em nada (atirar). Nosso desejo é estabelecer a ordem e, se for o caso, prender e submeter à justiça para que o criminoso possa responder pelos seus atos”.
Sem hierarquias
Acima de sua cabeça, bem ao centro da mesa, Paulo tem suspenso na parede um quadro com a foto aérea do 17° Batalhão da PM, onde atua no comando por cerca de dois anos.
O comandante diz que não há como colocar de forma hierárquica as funções da polícia, já que todos compõem o mesmo grupo e são responsáveis pelos resultados.
“O comando não é uma pessoa, somos uma equipe. Começa desde o soldado e chega até mim. Aqui, no quartel, a gente não tem faxineiro, enfermeiro, secretário… somos todos policiais. E esta estrutura que a polícia tem desde o comando até o soldado é de um que vai cuidando do outro. E esse cuidar não é exatamente passar a mão na cabeça, é, muitas vezes, lapidar o soldado pra que possa melhorar no dia a dia”, aponta.
Mesmo com trabalho em equipe, Paulo reconhece que sua função tem um papel crucial do ponto de vista técnico e doutrinário da corporação. Ele precisa estar atento a tudo o que acontece e orientar sua tropa da melhor forma possível.
“Conversar, convencer e orientar. Para perder o fio da meada é rapidinho”, exclama.
Com a rotina policial intensa, do início do turno até a ida para casa, os policiais passam por situações que podem esgotar tanto a parte física como psicológica. Encaram isso, muitas vezes, sem o aparato do estado. Para Paulo, a disciplina da corporação torna possível realizar as atividades de forma fluída.
“Para que eu possa ter sucesso, meu policial precisa ter sucesso. Não há grau de importância entre esse e aquele, mas há grau de missão. E eu falo com muita convicção, eu sou muito apaixonado pela minha tropa. É um pessoal que mesmo dado a todas as adversidades, com esse rigor que nós temos, conseguimos cumprir nossas missões. Nosso deus é o cumprimento do dever acima de qualquer coisa”.
Projetos para 2021
Paulo tem sob seu comando 19 bairros de Joinville, com mais de 250 mil habitantes, e mais o município de Barra Velha. Para 2021, os projetos vão desde renovar os equipamentos de trabalho até buscar maior aproximação com a comunidade.
“Do ponto de vista operacional, estamos colhendo frutos de anos anteriores. Do ponto logístico, no ano passado, renovamos praticamente toda a frota de veículos. Pra todas as corporações é importante ter o nosso pessoal motivado, porque se tem uma coisa que motiva o nosso policial é um bom carro, uma viatura nova. Isso melhora ainda mais a capacidade operacional do batalhão”, explica.
Na área de cuidados do 17° batalhão, há três sedes da PM, uma em Barra Velha, outra na Praça Tiradentes, no bairro Floresta, e uma terceira no Adhemar Garcia. A ideia para este ano, junto à prefeitura, é mudar a sede do Adhemar para dentro de uma praça da comunidade.
“Aquele prédio onde está a sede é muito antigo, já tem não onde remendar. Esta mudança pode ser algo que motivará a nossa tropa. Quando temos a maior presença policial, como aconteceu no Floresta, aumenta a frequência de pessoas, elas se sentem mais seguras e ficam mais próximas do efetivo”, diz.
Carreira e aposentadoria
Natural de Florianópolis ou “manezinho da Ilha”, como ele mesmo se descreve, Paulo está há cerca de 30 anos atuando na Polícia Militar. Ele chegou a Joinville em 1998, assim que se formou.
Desde a sua chegada à região, além de Joinville, também passou por Araquari e São Francisco do Sul. Antes de chegar ao 17°BPM, fundado há 15 anos, atuou no 8°BPM nas funções de soldado, tenente, capitão e major. Também já foi subcomandante e, antes de assumir a zona sul da cidade, comandou a Central Regional de Emergência (CRE).
Aos 50 anos, com mais da metade de sua vida dedicados à polícia, Paulo afirma ser necessário muita paixão e devoção pelo que faz. Mesmo sem muito tempo para o lazer e com hábitos discretos, não dispensa uma corrida matinal na rua, de máscara.
“70% do meu tempo dedico à corporação. Os outros 30% é para me alimentar, dormir e ficar com a família. Mas não é por obrigação, a gente veste a camisa com amor. Mas é preciso haver o equilíbrio. Para nós, o principal objetivo de vida é a profissão, até que se forme a família. E profissionais bem resolvidos em casa, se dedicam melhor ao trabalho”, explana.
Agora, na reta final de seu comando, já que pretende se aposentar no fim deste ano, Paulo quer continuar em Joinville, cidade que adotou em caráter profissional e pessoal, e dedicar mais tempo à família.
“Estou no fim do meu ciclo e daqui a pouco vem outro comandante. Isso é normal da corporação, e é importante que aconteça, para que possamos estar sempre oxigenando. Na nossa atividade não dá pra ter baixa estima, porque a sociedade exige que estejamos sempre atuantes”, finaliza.
Receba notícias direto no celular entrando nos grupos de O Município Joinville. Clique na opção preferida:
• Aproveite e inscreva-se no canal do YouTube