Vídeo revela confissão de assassinato de empresário de SC há mais de 10 anos e cita dois novos envolvidos
Gravação obtida mostra a assassina afirmando participação no crime de 2014 e apontando nomes até então desconhecidos do processo
Gravação obtida mostra a assassina afirmando participação no crime de 2014 e apontando nomes até então desconhecidos do processo
O jornal O Município obteve acesso, com exclusividade, a um vídeo em que Sandra Maria Bernardes admite ter participado do assassinato do empresário brusquense Amílcar Arnoldo Wehmuth, conhecido como Chico, morto por envenenamento em 29 de junho de 2014, aos 70 anos.
Na gravação, que parece incompleta, Sandra afirma ter contado com a participação de duas pessoas “no fato”: Josiane Cristina Amandio, que trabalhava como empregada doméstica para ela na época, e Claudeir, suposto conhecido de Josiane. Com essas declarações, a Polícia Civil já confirmou a instauração de um novo inquérito.
As revelações são inéditas, já que, durante todo o processo judicial, incluindo o julgamento no Tribunal do Júri, em setembro de 2018, Sandra sempre negou o crime e nunca mencionou a participação de terceiros.
Após obter o vídeo, a reportagem encaminhou o material formalmente ao Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC) e ao delegado da Divisão de Investigação Criminal (DIC) de Brusque, Fernando de Farias, que confirmou, em primeira mão, a abertura de um novo inquérito para apurar as informações sobre os dois supostos novos envolvidos.
Questionadas pela reportagem, fontes com conhecimento jurídico e familiaridade com o caso explicaram que a condenação de Sandra pelo homicídio, no entanto, deve permanecer inalterada.
Na manhã desta segunda-feira, 11, o advogado de defesa de Sandra, Raul Faust De Luca, informou que conversará com a cliente para apresentar os esclarecimentos necessários à apuração do caso. Foi cedido a ele o espaço para manifestação.
Sandra está presa no Presídio Feminino de Itajaí desde 21 de março de 2022, cumprindo pena em regime fechado. A sentença fixou a pena em 21 anos e quatro meses de prisão. A progressão para o regime semiaberto está prevista para 6 de setembro de 2026. Na época da condenação, ela tinha 55 anos.
A data exata da gravação do vídeo ainda não pôde ser confirmada, mas fontes próximas ao caso indicam que a gravação foi feita antes do julgamento.
Nas imagens, Sandra parece chorar, pede desculpas à família de Chico e afirma que não agiu sozinha. Ela relata ter sido “induzida” por Josiane, que teria sugerido comprar “algo” para “dar” ao empresário, que já não estava bem de saúde.
Leia a transcrição do que Sandra diz no vídeo:
“Eu não sei nem por onde começar. Foram tantas coisas que passei e que foram ditas que
não foram verdade. Peço perdão à família. Com a cabeça quente, tive minha empregada, a Josi, há mais de 10 anos, que ajudou a cuidar dos meus filhos… Ela viu tudo, participou de tudo. Quando nós soubemos que ele (Chico) tinha uma amante, que era a Vera, posso dizer que fui induzida, não sei se essa é a palavra certa, mas aí ela (Josiane) veio com uma conversa que compraria alguma coisa para dar, já que o Chico tava doente mesmo, não iria sobreviver e aquelas coisas todas que vocês já sabem. Então quero só dizer que não participei sozinha. A Josiane Amandio e o Claudeir, ele comprou, ela me deu, e ‘num’ momento de desespero, ‘num’ momento de loucura, aconteceu o fato” [momento de corte no vídeo].
Segundo apurado pela reportagem, o material nunca chegou às mãos do Ministério Público e, por isso, não foi investigado e tampouco anexado ao processo. Advogados familiarizados com o caso avaliam que o conteúdo abre margem para interpretações e pode levantar novas hipóteses.
Como o vídeo não integrou o processo, nem Josiane nem Claudeir foram citados como cúmplices. Josiane, inclusive, depôs em defesa de Sandra durante o julgamento. Já Claudeir nunca foi sequer mencionado.
De acordo com o laudo cadavérico, Chico morreu após ingerir uma dose letal do pesticida aldicarbe, conhecido popularmente como “chumbinho”. Esse produto, altamente tóxico, é usado como raticida para exterminar ratos e roedores.
No processo, a acusação alegou que Sandra adicionou o “chumbinho” em uma taça de vinho que ofereceu a Chico. Embora tenha admitido que ele consumiu vinho na noite da ocorrência, a condenada sempre negou ser a autora do crime.
Antes do empresário ser levado ao hospital, uma filha de Chico esteve no apartamento e afirmou ter visto taças sujas na pia.
Toxicologistas alertam que o veneno não apresenta cheiro nem sabor, o que facilita sua diluição em alimentos e bebidas. Uma única grama de aldicarbe basta para matar uma pessoa de até 60 quilos em cerca de meia hora.
Quando a substância é inalada ou ingerida, ela entra rapidamente na corrente sanguínea e inibe a enzima colinesterase, essencial para o funcionamento do sistema nervoso. Como resultado, provoca transtornos neurológicos, parada cardíaca e paralisia dos pulmões, podendo levar à morte por asfixia.
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu o uso, a fabricação e a comercialização do aldicarbe em outubro de 2012, devido ao alto número de casos de envenenamento provocados pelo uso inadequado do produto.
Josiane Cristina Amandio trabalhava como empregada doméstica no apartamento onde Sandra e Chico moravam, na Avenida Atlântica, em Balneário Camboriú. Em juízo, ela afirmou que não presenciou o crime e descreveu o casal como “muito unido”, sem sinais aparentes de conflito.
A testemunha também disse não saber se Sandra recebeu algum benefício financeiro após a morte do empresário. Ela relatou ter visto Chico dois dias antes da viagem dele a São Paulo, onde passou por uma cirurgia na cabeça, e acrescentou que, após o retorno, ele aparentava estar bem.
Josiane ainda declarou que, após a morte de Chico, Sandra não retirou objetos do apartamento, levando apenas o filho, conforme acordo com o genro do empresário. Segundo a testemunha, Sandra ficou bastante abalada e precisou dispensá-la por falta de condições financeiras.
O homem identificado como Claudeir não teve o sobrenome revelado por Sandra. No entanto, por meio de apuração, a reportagem localizou o possível “cúmplice”, que era próximo de Josiane na época do caso. Por falta de clareza nas informações, optou-se por preservar o sobrenome dele neste momento.
Chico era amplamente conhecido em Brusque como um dos sócios da Quimisa S/A. Em 2000, candidatou-se a prefeito da cidade e, entre 1991 e 1994, atuou como secretário de Desenvolvimento Econômico.
Na mesma época, presidiu o Brusque Futebol Clube, conduzindo o time à maior conquista da sua história: o título de campeão catarinense de 1992.
Devido à importância de Chico em vários setores da comunidade, o caso ganhou destaque regional. O julgamento recebeu cobertura especial do jornal O Município e de veículos de outros municípios do estado.
Por todas essas circunstâncias, o processo tornou-se um dos mais famosos e emblemáticos da história de Brusque.
Leia também:
1. Motociclista que tentou fugir da polícia em Joinville sofreu queda e acabou preso
2. Acij debate tarifas dos EUA e cenário econômico em SC com a presença de senador
3. Câmara de Joinville cobra mais vagas para dependentes químicos em comunidades terapêuticas
4. Senador Esperidião Amin recebe título de cidadão honorário de Joinville
5. Estudo de Impacto de Vizinhança revela mais detalhes sobre novo shopping em Joinville
Com arquitetura única em Joinville, Palacete Dória precisou ser construído por empresa de Curitiba: