“Viemos apenas de pijama”: família síria foge de terremoto na Turquia e encontra lar em Joinville
Especial Virei Joinvilense conta histórias de imigrantes que escolheram Joinville como lar
Isabel Lima
jornalismo@omunicipiojoinville.com
14/03/2024
Após o pior terremoto da história da Turquia, em fevereiro de 2023, Hania Shukri, de 32 anos, e Rami Nashed, de 37 anos, embarcaram com os dois filhos para o Brasil. O casal sírio sabia que encontraria a paz e tranquilidade em algum canto do país. Por recomendação de um amigo, chegaram em Joinville para recomeçar a vida.
Assista ao vídeo e conheça a história de Hania Shukri e Rami Nashed:
A história da família é a segunda a ser contada na série Virei Joinvilense, um especial produzido pelo jornal O Município Joinville em comemoração ao aniversário de 173 anos da cidade, comemorado dia 9 de março. Ao todo, são cinco reportagens e cinco vídeos publicados semanalmente em omunicipiojoinville.com.
A vinda para o hemisfério Sul foi repleta de emoções. Apenas com a roupa do corpo, os quatro saíram de casa no meio da noite. O terremoto de fevereiro de 2023 deixou 53.537 mortos e 107.213 feridos na Turquia. Além disso, a Síria também foi atingida pelo fenômeno, registrando pelo menos 5,9 mil mortes. Rami, Hania, Julia e Jade escaparam.
A família já conhecia o Brasil. Em 2017, eles foram para Goiânia passar as férias, onde Jed nasceu. Entretanto, Hania e Rami se apaixonaram pelo país e decidiram ficar. Pouparam o dinheiro separado para as férias e Rami começou a buscar emprego na cidade. Após sete meses de procura, ele foi chamado para trabalhar na Turquia.
Entretanto, o sonho de morar no Brasil não tinha acabado. “Quando o terremoto aconteceu, a primeira coisa que pensamos foi ‘lar’, o Brasil é lar para nós”, diz Rami. “Casa não é o lugar onde você nasceu, casa é o lugar onde você quer viver, que te dá a chance de ter um bom futuro e te dá uma vida”, acrescenta Hania.
“Foi uma ótima jornada”, reocorda Rami. “Era tudo tão grande. Eles nos levaram para conhecer a cabine. Eles sabiam que estávamos em uma situação ruim e tentaram ser gentis”, completa Hania.
“Ele sabia que nós não tínhamos uma casa, ele nos deu um lugar para ficar de graça”, ressalta Rami. A mãe do amigo tem uma casa de dois pavimentos separada e cedeu a parte de cima para a família passar alguns meses.
“Quando nós chegamos na casa, eles tinham preparado pijamas, escovas de dente, brinquedos para as crianças. Foi algo que realmente tocou o coração”, recorda Rami.
Mais alguns meses se passaram e a família se mudou para um apartamento no Bom Retiro, onde moram com dois gatos, o Sete e o Oito. No meio tempo, a história da família foi divulgada pela imprensa e fez com que Rami conseguisse um emprego na cidade.
Alguém da alta gestão da SoftExpert, empresa que oferece softwares de gestão, viu uma entrevista e se interessou pela experiência de Rami com comércio exterior. Fora a experiência no ramo, Rami fala inglês e árabe, facilitando as trocas comerciais.
Já Hania cuida dos filhos e da casa. Ela também tem um canal no YouTube sobre a vida no Brasil, onde mostra as aventuras da família por vídeos que ela mesmo grava com o celular.
Por serem crianças, os irmãos já conseguem falar português. Os pais sabem algumas frases que aprenderam com o projeto Imigrante Cidadão do Centro Universitário Católica em Joinville. O programa oferece aulas de português para imigrantes gratuitamente, todos os sábados. “O professor e a professora já são nossa família”, conta Hania.
Embora estejam há pouco tempo em Joinville, o casal formou fortes laços de amizades com brasileiros. Esses amigos mostram a cidade e a região para a família, que já foram até no rio Piraí, em parque aquático e chegaram a visitar Florianópolis e Balneário Barra do Sul.
“Nós fomos à festa junina e amamos”, lembra Hania. Aos fins de semana eles costumam sair com as crianças para brincar, mas às sextas-feiras o compromisso sagrado os levam a única mesquita da cidade, o Centro Islâmico de Joinville.
Além da tragédia que tiveram que encarar na Turquia, Hania e Rami tem uma história repleta de viagens. Eles se conheceram na Síria. À época Rami dava aulas de inglês e Hania virou uma de suas alunas. Os dois se apaixonaram, mas tiveram que terminar, pois Rami terminou os estudou e foi trabalhar na Arábia do Sul.
Hania também se mudou, mas foi para o Egito com a família. A distância não foi o suficiente para afastar o casal, que decidiu se casar em 2013. Desde então, já moraram no Egito, onde Julia nasceu, Gana, Turquia e Goiânia, no Brasil.
Embora já tenham vivenciado alguns cantos do mundo, a família ainda foi surpreendida por alguns costumes brasileiros. Um deles é a forma que as famílias lidam com a maioridade. “No nosso país é comum encontrar família que criam os filhos dentro de casa até o casamento”, conta Rami.
Fora alguns costumes específicos, a família está bem adaptada em Joinville. “A gente não vê o que não goste aqui, não é frio”, pontua Hania. “A única dificuldade é que as pessoas não falam inglês”, finaliza Rami.