A cada nove de março, a cidade de Joinville é homenageada com narrativas tradicionais. Os meios de comunicação, os anunciantes e as instituições fazem do passado da cidade algo para ser venerado, com os seus heróis vitoriosos e ausentes de contradições.

Um príncipe e uma princesa são parte da história. O trabalho imigrante é apresentado sem suas contradições. Uma versão joinvilense do barco Mayflower é tratada como marco fundacional da Colônia que daria origem a Joinville.

A presença dos povos indígenas é apagada. A população negra é assunto proibido nos “cânones oficiais” e, quando interpretada, é com objetivo de esquecer o racismo estrutural e silenciar a presença negra na política, economia e cultura local.

O processo de industrialização é lido como resultado de trabalho duro, mérito de um povo ordeiro. É como se a iniciativa privada local não tivesse recebido suporte financeiro do Estado com empréstimos com juros baixos e obras de infraestrutura.

“AQUI SERÁ O ESPAÇO DIGITAL PARA LER CRÔNICAS SOBRE AS ABORDAGENS DA HISTÓRIA DE JOINVILLE DE MINHA AUTORIA. TAMBÉM ACONTECERÃO A PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS DE CONVIDADOS E CONVIDADAS”

No mesmo enredo, as agitações operárias não marcaram as ruas centrais na primeira década do século XX, como se Joinville estivesse “imune da praga” sindicalista na Primeira República (1889 – 1930) ou das greves do período da suposta redemocratização.

Os anos de chumbo da Ditadura Militar (1964 – 1985) é lido cheio de receios, mesmo que tenha marcado os corpos, mentes e corações de homens e mulheres que aqui nasceram ou adotaram essa terra para chamar de sua.

Sobre as experiências (i)migratórias, pairá receios de que Joinville corre o risco de perder as suas características “tipicamente europeias”, o que veem acompanhado da falta de políticas de acolhimento na contemporaneidade.

Pois bem, leitoras e leitores, a primeira coluna chega até os seus olhos para dizer: aqui será o espaço digital para ler crônicas sobre as abordagens da história de Joinville de minha autoria. Também acontecerão a publicação de artigos de convidados e convidadas. Na busca de interpretá-la de baixo para cima, amparado em distintas produções da história e memória local, sempre procurando indicar as referências utilizadas e que cada um e cada uma poderá, por conta própria se preferir, ler e interpretar. Assim, quem sabe, mesmo que sejamos pequenos como uma mosca, igualmente seremos inoportunos a cada semana, além do nove de março.