Moradores de Joinville relembram histórias e bailões na sede da Sociedade Floresta, demolida sábado
Prédio foi vendido para pagamento de dívidas do clube, mas guarda lembranças de quem o frequentou
Prédio foi vendido para pagamento de dívidas do clube, mas guarda lembranças de quem o frequentou
Desde o último fim de semana, quem passa pela rua Santa Catarina, no bairro Floresta, já não encontra mais o prédio vermelho que marcou os bailões da cidade. O imóvel da Sociedade Floresta foi demolido no último sábado, 4, após ser vendido para o pagamento de dívidas. A história da entidade, porém, continua. Tudo foi transferido ao Gigantão, o complexo esportivo, na rua Ely Soares.
Agora, o que ficou da antiga sede foram as lembranças e memórias de um tempo de festa, música e diversão. É assim que Katia Feltrin, 62 anos, aposentada, se recorda do lugar. O pai, Angelo, fez parte da fundação e, mais tarde, da diretoria, em 1976. “A gente foi muito feliz. A Sociedade Floresta vai fazer uma grande falta porque é uma referência nossa, é a segunda casa”, afirma.
Criada dentro da Sociedade Floresta, desde muito criança Katia participou das apresentações de dança, dos concursos de dama – no qual já foi eleita, princesa e rainha, e acompanhava os pais nos bailes e nos jogos de bolão. A família disputava competições da modalidade fora da cidade. No esporte, as mulheres eram conhecidas como Cinderelas, conta rindo.
Foi acompanhando a família nas festas, entre a infância e a adolescência, que ela aprendeu a dançar. “Quem me ensinou foi o meu pai”, recorda. Hoje, com ambos falecidos, a aposentada sente falta de ver o pai e a mãe dançarem. Ela lembra que eles abriam as danças nas apresentações de casais, com o cantor Francisco Petrônio.
Foi lá também, durante o Carnaval, aos 15 anos, que a aposentada conheceu o ex-marido, pai de seus dois filhos. “Inclusive, até meus testemunhas foram todos os diretores do Floresta”, recorda.
Depois de casada, Katia conta que ela e o marido acabaram se afastando dos bailes, mas continuaram a participar das competições de bolão. Depois que eles se separam, nos anos 90, foi no clube que Katia conheceu suas amigas, amizade que cultiva até hoje.
Ao encontrar o Floresta, Lindalva Costa, 64, cuidadora de idosos, encontrou também as amigas Katia, Sula, Márcia e Marisa. As cinco, na época, era conhecidas como “As Galdinetes”. Isso porque eram muito amigas do então produtor de eventos Galdino Randig. “A gente brincava, festava, comemorava aniversários, com direito a balão e tudo”, relembra Dalva, apelido pelo qual ficou conhecida.
Eram as sextas-feiras de Ouro, principalmente, que reuniam as amigas. “Inclusive, tínhamos uma mesa, o garçom já guardava pra gente, então a hora que chegávamos, a mesa já estava ali”, conta. Outro baile famoso era o da quinta-feira do amor.
Os bailões eram regados a muita música ao vivo. Dalva conta que diversos grupos musicais, hoje de sucesso, tocavam no Floresta no início da carreira, como Corpo e Alma, Terceira Dimensão, Carisma, Sangue Latino, entre outros.
Depois de se tornar cliente assídua, ela foi convidada a trabalhar na bilheteria da Sociedade. Para Dalva, trabalhar no local foi muito divertido. Nas sexta-feiras o trabalho era puxado, já que os bailes costumavam lotar e os clientes faziam filas enormes para conseguirem comprar os ingressos. “Era muito legal”, conta.
Ao longo dos anos, o grupo foi ganhando mais gente. Uma amizade que continuam mais de 20 anos depois.
A venda do imóvel foi necessária para pagar as dívidas da entidade, explica o atual diretor Julio César Vieira. Ele conta que o prédio já iria a leilão, mas que a direção conseguiu fazer a venda antes que isso acontecesse. A decisão foi tomada junto dos sócios, afirma Vieira, após assembleia.
De várias dívidas, uma das maiores é a indenização de um afogamento que ocorreu nos anos 90. Segundo Vieira, a antiga diretoria não foi as audiências e o processo se arrastou até então. Além da indenização, a atual administração precisou pagar dívidas trabalhistas e processos iniciados em outros anos.
“Isso estourou na nossa administração, mas a dívida não é nossa. E era um valor alto, a gente teve que se desfazer de um patrimônio”, conta. A Sociedade Floresta tinha duas propriedades, a sede, na rua Santa Catarina, e o complexo esportivo, na Ely Soares.
Na venda da sede, o Floresta recebeu parte do pagamento em dinheiro e também 11 imóveis em Araquari, que serão vendidos. O recurso será destinado ao complexo, que vai ganhar uma reforma a partir de agosto. O diretor conta que a ideia é transformar o local em arena multiuso e um salão de eventos.
Ainda que a Sociedade Floresta não tenha acabado e continue sua trajetória no Gigantão, as histórias da juventude de muitos joinvilenses foram marcadas pela antiga sede seus bailões. Para Katia, o que fica são as lembranças, as boas, as ruins e dos amigos que já partiram. “Agora, veio essa grande tristeza. É um pedaço da minha casa que foi embora. Eles podem ter grandes propostas para aquele terreno, mas ali sempre vai ser a nossa Sociedade Floresta.”