Zé Antônio, ex-JEC, decide paralisar carreira após perder familiar para Covid-19
Atleta diz que só volta aos gramados após tomar vacina e fala que jogadores estão jogando com a sorte
Atleta diz que só volta aos gramados após tomar vacina e fala que jogadores estão jogando com a sorte
No dia 14 de março deste ano, Zé Antônio optou por encerrar o contrato com o Joinville e paralisar a carreira no futebol. A decisão é motivada por perdas, dores e medo de jogar durante a pandemia da Covid-19.
A pausa tem como objetivo cuidar e estar ao lado da família. Sua esposa, Carolina Pinto, em um intervalo de 15 dias, viu mãe ser internada e o pai morrer por complicações do coronavírus.
Eles foram internados no mesmo dia, em 29 de fevereiro, mas foram separados pela situação crítica das redes de saúde. Por isso, um foi para São José do Rio Preto e outro para Barretos, ambas cidades do estado de São Paulo.
A sogra de Zé estava internada há uma semana quando soube que o esposo morreu. “Foi muito difícil. Ela recebeu a notícia sozinha, ninguém poderia estar ao seu lado. Quando chegou em casa o companheiro já não estava lá”, conta o jogador.
Com a família abalada, o atleta, junto da esposa e o filho, decidiram se mudar para Cajobi (SP), cidade natal dele e Carolina, junto à mãe dela. “Foi a decisão certa. Além disso, eu não queria manter o contrato e ganhar salário sem saber quando voltaria”, explica.
Zé afirma que a decisão também foi tomada pelo medo de jogar futebol neste período. Ele testou positivo para Covid-19 assim que chegou em Joinville, no dia 10 de janeiro. Assintomático, pouco sentiu, naquele momento, os sintomas da doença.
Ele lembra que logo após sair da cidade catarinense, no dia 5 de março, houve o surto de casos no elenco do JEC, em que 30 pessoas do clube, incluindo 22 jogadores, testaram positivo.
O volante lembra que o Tricolor disputou a final da Recopa Catarinense em Chapecó dias antes, onde a cidade do Oeste já estava em uma situação dramática. De lá, todos voltaram no mesmo ônibus. A previsão já era negativa. “O pessoal falou: os próximos testes podem piorar”, conta.
Para ele, profissionais do país inteiro estão jogando com a própria sorte. “Acredito que há jogadores contaminados em campo. Tenho medo de me contaminar de novo e, dessa vez, passar para o meu filho e esposa”, lamenta.
Zé Antônio afirma que os jogadores de futebol não são unidos por direitos ou causas e que, durante a pandemia, estão sendo chantageados por um discurso único: “Preciso trabalhar para sustentar a família”.
O atleta pensa que deveriam ter formas alternativas para treinar, estar em casa e, se necessário, receber um salário menor neste período. As consequências também o preocupam. “Os jovens e atletas não sabem o que a doença vai desenvolver a médio e longo prazo”, analisa.
O volante acredita que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) tem condições e capacidade para criar outras metodologias que não coloquem os profissionais do esporte em risco.
“É possível criar uma ‘bolha’, por exemplo, como fizeram na NBA e Champions League, porém, as federações não querem que o dinheiro pare”, argumenta.
Com pensamentos à esquerda nas pautas políticas, Zé Antônio explica que as ideias não se tratam de uma escolha, mas por ele e sua família terem origem entre os trabalhadores.
Em 2019, com salários e direitos de imagem atrasados, ele liderou a greve dos funcionários do Figueirense, na qual, ao lado dos companheiros de time, passaram dias sem treinar e se recusaram a entrar em campo contra o Cuiabá, pela Série B. Após as manifestações, a empresa Elephant, que administrava o clube, decidiu deixar a diretoria.
O atleta diz que vê o atual momento do país com pessimismo. Além de críticas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), ele se posicionou contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, e às medidas envolvendo pautas trabalhistas, como a reforma da previdência e a greve da Comcap, em Florianópolis.
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Para ele, Bolsonaro é o principal culpado pela situação da pandemia da Covid-19 no Brasil. “Ele (Bolsonaro) aglomera, incentiva a não usar máscara, toma remédio sem comprovação cientifica e faz campanha contra a vacina”, opina, indignado.
Zé lamenta a falta de informação e estudo entre os jogadores de futebol, sendo que alguns, de acordo com ele, não sabem sequer ler e escrever. “Faz parte do projeto de destruição do país. Eles não querem que a gente tenha conhecimento”, ressalta.
Neste primeiro momento, o atleta deve seguir com a carreira paralisada. Seu retorno aos gramados deve acontecer apenas após a vacinação em massa no Brasil.
Aos 37 anos, Zé Antônio afirma que está em plenas condições para voltar ao futebol profissional.
“Tenho capacidade física e técnica para jogar, mas quero voltar com segurança para os atletas e familiares”, finaliza.
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