Em pouco mais de uma década, Araquari deixou de ser um pacato município de economia agrícola para se consolidar como um dos principais polos industriais e logísticos de Santa Catarina. Com localização estratégica entre rodovias federais, proximidade do maior município catarinense e acesso facilitado a portos, a cidade foi impulsionada por uma gestão pública ativa na atração de investimentos. Nesse período, o município multiplicou seu PIB, atraiu multinacionais e subiu da 67ª para a 12ª posição no ranking econômico estadual.
De acordo com o censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, a economia de Araquari estava na 67ª posição no ranking estadual. Atualmente a cidade tem um Produto Interno Bruto (PIB) estimado em R$ 7,5 bilhões, ocupando a 12ª posição em Santa Catarina, segundo os dados.
Com isso, Araquari superou municípios importantes do estado, como Tubarão, Lages, Concórdia, Rio do Sul e Balneário Camboriú. “Uma cidade de 45 mil habitantes que passou na frente de uma infinidade de cidades com mais de 100 mil habitantes”, observa Clenilton Pereira, que foi prefeito de Araquari entre 2017 e 2024.
Clenilton acompanhou de perto o processo de transformação econômica da cidade. Araquariense, ele iniciou a vida pública aos 23 anos como vereador e, anos depois, assumiu a Secretaria de Desenvolvimento Econômico no fim de 2009, durante o governo de João Pedro Woitexem.
“Na época, o município era considerado pacato, era dependente de Joinville para quase tudo”, menciona. Ele destacou que a arrecadação era baixa e a ausência de grandes empresas refletia a falta de oportunidades de emprego.
O secretário de Desenvolvimento Econômico de Araquari, Londry Turra, lembra que Araquari tinha uma economia agrícola, baseada na produção de hortifrúti, e reconhecida como a Capital Catarinense do Maracujá. “É uma cidade que tirou a segunda via da carteira de identidade”, comenta.
Segundo Londry, na década de 1990, quando ele ainda atuava como gerente de banco em Joinville, costumava visitar Araquari para negociar com as únicas duas empresas instaladas no município: a Sinuelo e a Cimebras, fundição da antiga Motobombas Schneider, atual Johnson Elétric. “Era isso e mais nada. De resto, a economia era baseada na agricultura”.
De acordo com Londry, há cerca de dez anos, a gestão pública passou a adotar uma postura ativa na atração de investimentos, visitando empresas, oferecendo suporte e criando um ambiente acolhedor para quem desejava se instalar na cidade, uma prática mantida até hoje.
O ex-prefeito Clenilton recorda que o início dessa mudança exigiu ações ousadas. Ele decidiu viajar à China para divulgar Araquari em eventos internacionais. A iniciativa gerou repercussão na imprensa local, que questionou os motivos da viagem. Clenilton respondeu que estava “vendendo Araquari”, ou seja, apresentando a cidade como oportunidade de investimento a empresários estrangeiros.
Segundo ele, a atratividade de Araquari era evidente: proximidade com Joinville, o segundo maior polo metalmecânico do país, dois aeroportos próximos (de Joinville e Navegantes), conexão com capitais como Curitiba e Florianópolis, além de quatro portos num raio de menos de 100 km. A infraestrutura logística também foi destacada, com acesso direto à BR-280 e BR-101. Esses fatores, combinados com a divulgação estratégica, passaram a despertar o interesse de investidores.
Clenilton percorreu outros países, como Estados Unidos e Chile, em busca de parcerias e oportunidades. O trabalho de promoção internacional e o contato com empresários da região e de fora foi fundamental para consolidar Araquari como um novo polo industrial catarinense. A transformação começou com a chegada de novas empresas que identificaram em Araquari um ponto estratégico para logística, graças aos tópicos atrativos citados.
Foi a partir de 2011 que Araquari começou a receber os primeiros grandes investimentos industriais. Uma das primeiras conquistas foi a instalação da Hyosung, empresa sul-coreana e maior fabricante de elastano do mundo. Segundo Clenilton, o investimento inicial foi de cerca de R$ 250 milhões, o que representou um marco para a economia local.
A unidade da Hyosung em Araquari iniciou a produção de elastano em setembro de 2011, com capacidade anual de 12 mil toneladas. “Com o passar do tempo, o número de clientes no Brasil foi aumentando”, destaca Jessé Moura, gerente de marketing da empresa.
Ele relata que Araquari foi selecionada por sua localização estratégica na BR-101, o que garante fácil acesso logístico para o escoamento da produção, especialmente para polos têxteis como Brusque, Blumenau, Jaraguá do Sul e Joinville. Além da logística, pesaram na decisão os incentivos oferecidos pelo município e a disponibilidade de mão de obra na região.
Na sequência foi feita a negociação com a Ciser, maior fabricante de fixadores da América Latina, até então sediada em Joinville. Paralelamente, o município começou a estruturar grandes condomínios industriais, preparando o território para receber novos empreendimentos, de acordo com ex-prefeito Clenilton.
Foi nesse contexto que surgiu a possibilidade da chegada da BMW. Clenilton lembra que, naquele momento, a vinda da montadora alemã parecia improvável para uma cidade do porte de Araquari. A conquista, segundo ele, foi resultado de uma força-tarefa entre o município e o governo do estado, durante a gestão de Raimundo Colombo (PSD). As negociações duraram cerca de dois anos e culminaram na instalação da fábrica da BMW no município.
Atualmente, a montadora contribui com aproximadamente R$ 35 milhões anuais em tributos para os cofres da prefeitura. Clenilton destaca que a chegada da BMW posicionou Araquari no cenário do desenvolvimento econômico catarinense e nacional.
“Eu costumo dizer que Araquari é o shopping do desenvolvimento”, comenta o ex-prefeito. O município abriga hoje empresas de renome como Ciser, Perfilor, Fortlev, BMW, Durín, Hyosung, Kingspan, entre outras multinacionais e médias empresas de diversos países. Além disso, a cidade concentra cerca de 10 condomínios industriais ao longo de 20 quilômetros da BR-101, alguns já completamente ocupados.
O ex-prefeito reconhece que o desenvolvimento de Araquari está diretamente ligado à proximidade com Joinville. Segundo ele, sem o apoio da cidade vizinha, algumas empresas provavelmente não teriam se instalado no município. Joinville é uma fonte fundamental de mão de obra qualificada e oferece uma estrutura ainda não disponível na cidade, como universidades, centros comerciais e serviços diversos.
Ele compara o processo a um empréstimo, dizendo que enquanto Araquari ainda constrói sua própria base, utiliza a estrutura de Joinville como apoio. Porém, ele ressalta que aos poucos, o município vem avançando, com a chegada de um shopping, novas escolas particulares, condomínios residenciais e outras melhorias.
Apesar da contribuição de cidades do entorno, como São Francisco do Sul e Barra Velha, ele destaca que Joinville é, sem dúvidas, a principal parceira, a quem ele chama de “primo rico” por fornecer respaldo e condições para o crescimento de Araquari.
Segundo Clenilton, Araquari conseguiu atrair muitas empresas ao adotar uma forma de atendimento diferenciada ao investidor, valorizando os empresários. Ele defende que o empreendedor, independentemente do porte, é a força que move a economia. “Não é só sobre o dinheiro e emprego que trazem, é também o recado que passam: esta cidade é a cidade ideal para investir”, conclui.
*Colaborou Bruno da Silva
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