Há alguns dias, a Secretaria de Cultura e Turismo de Joinville anunciou uma portaria que suspendeu por 90 dias a execução de projetos de quatro editais do Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura. Dentre os motivos, respeitar normas de distanciamento social, como a proibição de eventos e similares. Mas, será que a cultura só se faz em espaços como estes?

A música que você ouve por streaming, a novela da TV aberta, a LIVE exibida na internet ou o livro que você leu antes de dormir, tudo isso foi produzido através de um processo complexo que certamente contou com muitos profissionais. Esta é uma das defesas apresentadas pelo Cultura Movimenta, grupo de artistas de Joinville que promoveu uma reunião virtual no último domingo, 26, para debater as consequências da portaria citada anteriormente.

A interpretação do grupo é que o posicionamento da prefeitura é uma “última pá de cal” sobre um setor que já vivia na marginalidade das políticas públicas da cidade nos últimos anos. De fato, mesmo antes da pandemia, o sistema de incentivo já estava sendo descumprido. Aqui mesmo nesta coluna eu já tratei das medidas do Plano Municipal de Cultura que nunca foram efetivadas. Neste sentido, a portaria da prefeitura parece ser uma desculpa para enterrar de vez um setor que já não interessava à atual gestão.

Como chegamos nesta situação?

Não posso deixar de observar que os personagens que debatem neste momento a atual portaria da prefeitura são os poucos e mesmos que sempre se engajaram no tema. Levando em consideração que o Conselho Municipal de Política Cultural não foi consultado sobre a portaria e que, há anos, esta comunidade representativa não consegue alterar de forma efetiva a atuação pública do setor, eu só tenho um conselho: queimem o Plano Municipal de Cultura.

Evento Ocupa Cidadela. Foto: Marcus Carvalheiro

Sabemos que a cultura sofrerá ainda mais que outros setores em virtude da pandemia. O entretenimento, por exemplo, foi o primeiro a parar e deve ser o último a voltar, se voltar. Por isso mesmo, acho que os esforços de quem move o setor podem ser redirecionados. Por exemplo, talvez seja hora de questionar a própria representação política da cultura. Será que um conselho basta?

Sabemos que, aos poucos, os setores da cultura reduziram seus atores políticos. Fóruns com três ou cinco pessoas elegeram representantes que batalharam sozinhos por suas comunidades (teatro, música, dança, patrimônio e outros). A conta uma hora chegaria. Estas eleições feitas para manter cadeiras fictícias dentro da política pública talvez tenham cegado a área cultural, que hoje colhe os frutos da falta de trabalho de base, termo muito comum para quem atua na política.

Futuro

Por fim, a crise será propícia para que a arte recupere características questionadoras. Certamente, quem se propuser a criticar com energia a atual conjuntura política será um forte candidato a não obter mais apoio público através de incentivos. Ser um ator político é algo cruel, mas necessário. Quem está disposto a se sacrificar para tal tarefa?

Vereadores? Prefeitos? Coletivos? Associações? Quais serão os agrupamentos sociais que assumirão esta responsabilidade herdada por conselhos, secretarias e fundações culturais?