Estamos nos aproximando da tradicional época em que tratamos de Joinville como a “Cidade da Dança”, título concedido popularmente em virtude da cidade abrigar o “Maior Festival de Dança do Mundo”, fato reconhecido também pelo Guinness Book. Sua 38ª edição está prevista para julho de 2020, mas ainda aguarda os desdobramentos da pandemia para ser confirmada.

Aliás, o título também é algo formal, uma vez que a cidade é reconhecida como Capital Nacional da Dança, depois da publicação oficial feita pelo então presidente Michel Temer (Lei 13.314/2016).

Outro fator importante para a cidade ser reconhecida como tal é o fato de abrigar a única filial do Teatro Bolshoi fora da Rússia. Fundada em 2000, a escola acabou de completar 20 anos em Joinville e tem como mantenedores o Governo Estadual e outros diversos patrocinadores divididos em cotas através do projeto Amigos do Bolshoi.

Tanto o Festival de Dança como o Bolshoi são, de fato, instituições de extrema importância para promoção de cultura e transformação social, mas não seria interessante estender estas cadeiras de protagonistas também para outras instituições ou espaços públicos?

É claro que em meio à pandemia a última coisa que pensamos é gastar dinheiro público com algo que não é considerado “essencial”, como um palco no meio a cidade ou um teatro comunitário, mas considerem por um instante esta provocação como algo não factual, levando em consideração os últimos 37 anos de festival.

Sabemos que, em contrapartida pelo investimento e patrocínio dos governos municipais e estaduais, o Instituto Festival de Dança de Joinville elabora programações que abrangem também espaços públicos durante o mês de julho, assim como o próprio Bolshoi que também promove espetáculos gratuitos em datas pontuais. No entanto, eu me pergunto: e se os gestores públicos também tivessem investido em um palco aberto, um teatro municipal, ou pelo menos, tivessem realizado as manutenções necessárias em locais já previstos para o setor cultural de Joinville, como a Cidadela Antarctica?

Por exemplo, em entrevista de 2017, publicada no site Mercado de Eventos, o então Secretário de Cultura e Turismo de Joinville, Raulino Esbiteskoski, contou que o festival fomenta cerca de R$ 60 milhões em praticamente duas semanas. Será que este não é um bom motivo para manter o clima da dança durante o resto do ano? É obvio que a prioridade é o apelo cultural, mas se podemos agradar a gregos e troianos, por que não?

Falando nisso…

… fora o Festival de Dança, quantas iniciativas públicas (ou mesmo privadas) você vê ocorrer em Joinville durante o ano? Será que as comunidades periféricas acessam ou conhecem a grandeza das instituições citadas aqui além do espaço da Feira da Sapatilha?

Marcus Carvalheiro

Enfim, acho que uma coisa não elimina a outra. Quando o mundo voltar ao “normal” (se voltar), talvez repensemos eventos culturais através de outras óticas, como a de espaços públicos, bem arejados e de fácil circulação. Esta é uma dica para produtores culturais, artistas e formadores de opinião.

Talvez seja hora de instituições menores reivindicarem parte deste R$ 1 milhão anual repassado pelo Governo Estadual ao Festival de Dança ou parte desta atenção pública e midiática dada ao mês de julho.

Ou seja, além do Festival de Dança e do Bolshoi, valorize professores, dançarinos e instituições que fazem excelentes trabalhos no seu bairro ou na sua escola, muitas vezes sem verbas ou apoio. Inclusive, me dedicarei em outros momentos a escrever só sobre eles.

É claro que o reconhecimento cultural destes agentes também é realizado pelo Festival de Dança, quando vemos grupos locais ganhando prêmios ou se apresentando no próprio festival. Também sabemos das escolas públicas que são levadas para dentro do festival para terem contato com a dança durante o evento. Tudo isso é necessário e a provação deste texto tem apenas um intuito: ir além.

Dito isso, você ainda acha que Joinville é a cidade da dança ou a cidade do festival de dança?