Você sabe o que significa empatia? Atualmente, principalmente após o momento mais frenético da pandemia, foi possível observar mudanças importantes na forma de interagir e de lidar com as interações interpessoais.Cada vez mais temos um movimento de individualismo, que é diferente do movimento natural de individuação que todos nós passamos ao nos tornarmos seres únicos e diferentes uns dos outros.
O individualismo e a preocupação apenas consigo mesmo tem se mostrado uma pedra no sapato da sociedade e não tem como negarmos essa realidade.
Cada vez menos as pessoas se cumprimentam nas ruas ao caminhar, conhecemos menos os nossos vizinhos, menos buscamos de fato conversar com alguém para saber como estão sem ter segundas intenções ou algum interesse próprio.
Mas é claro que nem tudo está perdido. Esse processo pode estar se tornando mais comum, mas, em geral, acontece pelo movimento de “levar a vida no automático”.
Será que mesmo nesse contexto é possível sair desse movimento? Para fugir desse padrão, podemos em primeiro lugar fazer um movimento contrário e nos atentarmos mais aos nossos atos e vivências do dia a dia. Assim, aos poucos podemos pensar em como trazer de volta a capacidade humana de empatia e de se importar com o outro.
Buscar a empatia é um movimento que foge ao individualismo. Ao nos importarmos de fato em cultivar essa capacidade de se colocar no lugar do outro, abrimos espaço para um cuidado mais humano e carinhoso, com menos interesse oculto e mais interesse genuíno.
O que significa empatia?
Primeiramente é importante entender melhor o que significa empatia. Tem quem diga que a empatia é se colocar no lugar do outro. Num debate mais profundo, a empatia é ainda mais complexa do que isso. Afinal, quando nos colocamos no lugar do outro não conseguimos deixar de lado aquilo que nos pertence e não é incomum que tenhamos um pensamento do tipo “mas se fosse eu, faria aquilo e aquilo outro”.
Quando olhamos dessa forma, quando pensamos “se fosse eu”, já levamos a nossa carga pessoal para a situação e não conseguimos de fato ser empáticos.
Por exemplo, se minha amiga está em um relacionamento abusivo e eu tento me colocar no lugar dela, existe uma grande chance de colocar a minha experiência vivida nesse movimento e talvez dizer que ela é boba de continuar nesse relacionamento, porque “se fosse eu…”.
Dessa forma, não conseguimos ser de fato empáticos, pois não levamos em conta a vivência dessa amiga. Será que ela tem suporte para bancar um término? Ela tem possibilidades financeiras de se manter sozinha? Tem filhos e sente que sair do relacionamento vai estragar o conceito de família que para ela é um valor muito importante?
Se não nos colocamos COMO aquela pessoa, não conseguimos olhar para essas nuances e tendemos a encontrar “solução” para o problema em si, mas sem levar em conta o contexto do qual a pessoa não vai conseguir se desprender na vivência dela.
Talvez esteja um pouco complexo de entender, mas a empatia envolve mais do que me colocar no lugar do outro sendo eu. Está mais para me colocar como o outro no lugar dele, com as condições, jeito e vivências que ele tem, e não as minhas.
Isso com certeza torna essa prática da empatia ainda mais complexa e difícil. Desenvolver empatia não é uma tarefa fácil, de fato, ainda mais nesse contexto que vivemos, mas algumas dicas podem auxiliar a fazer esse movimento.
Como desenvolver empatia:
Seja um bom ouvinte
Escutar as pessoas com o coração aberto também não é tão simples. Mas permitir que a pessoa possa se expressar já nos dá um panorama muito melhor de como ela se sente e vive o que ela está passando. Diferente de quando deduzimos como ela está se sentindo naquela situação, com base nas nossas próprias experiências.
Evite se comparar
Como já vimos, empatia é mais do que se colocar no lugar do outro. Então, se comparar por você já ter vivido algo parecido, não é indicado quando o intuito é ser empático. Lembre que empatia é estar no lugar do outro, mas também na pele do outro.
Acolha, mesmo que não concorde
Talvez essa seja a grande dificuldade de colocar empatia em prática. Temos, enquanto seres humanos, dificuldade de acolher aquilo que não é lógico para nós. Como no exemplo da amiga que está num relacionamento abusivo, se eu não concordo com as decisões dela, dificilmente vou exercer empatia. Isso não quer dizer que precise concordar com ela, mas acolher e compreender que na vivência dela, com as capacidades e recursos que ela tem nesse momento da vida dela, é a escolha que ela consegue fazer.
Essas habilidades são essenciais e presentes no profissional da psicologia. Por isso, fazer terapia é tão diferente de todas as outras relações que temos em nosso cotidiano. Se puder, faça terapia!
Psicóloga Ana Carolina Schmidt.