Os vários tipos de transtorno de ansiedade (transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de ansiedade de separação, fobia social, transtorno do estresse pós-traumático, fobias específicas, transtorno obsessivo compulsivo e síndrome do pânico) têm sido crescentes na sociedade.
Levando em conta que cada vez mais vivemos em um mundo repleto de incertezas e possibilidades, precisamos estar atentos ao contexto atual e não ignorar o fato de termos enquanto sociedade passado recentemente de um mundo VUCA (volatility, uncertainty, complexity e ambiguity que significam, em português: volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade) para um mundo ainda mais complexo denominado BANI (brittle, anxious, nonlinear e incomprehensible, em português: frágil, ansioso, não-linear e incompreensível). O contexto tem grande impacto em aspectos psicológicos da população. Certamente existem fatores genéticos, mas de maneira geral a ansiedade enquanto patologia é multifatorial e precisamos levar em conta esses diversos fatores.
Também é fundamental levar em conta que os transtornos de ansiedade tem uma gama complexa de sintomas físicos, comportamentais e cognitivos e que a ansiedade nem sempre é um transtorno necessariamente.
Existe uma ansiedade enquanto sentimento, que evolutivamente surgiu como forma de proteção para nos prepararmos para os desafios e possíveis perigos com os quais poderíamos nos deparar. A ansiedade de uma prova ou uma apresentação importante no trabalho não necessariamente caracteriza um transtorno. Fazer uma boa avaliação da ansiedade, considerando e avaliando com cuidado o nível patológico da mesma se faz fundamental para que se tenha um tratamento adequado e aplicado quando necessário de fato. Levando em conta o contexto atual do mundo, se faz imprescindível que essa avaliação do que é normal ou patológico seja muito bem feita pelos profissionais da saúde que recebem estes indivíduos com relatos ansiosos.
Após essa análise, identificando que haja de fato um transtorno e não apenas uma ansiedade dita normal, podemos pensar na melhor forma de tratamento para os transtornos ansiosos. Não é de hoje que ouvimos e sabemos que alguns aspectos são importantes para nossa saúde: uma boa alimentação em equilíbrio, fazer atividades físicas com regularidade, manter um sono mínimo e ter momentos de lazer e descanso. Todos esses fatores podem ser considerados como fundamentais para uma melhora da ansiedade, pois trazem uma melhora da saúde geral do indivíduo. No entanto, pensando nas alterações que os transtornos de ansiedade causam no corpo, faz-se muito importante englobar e incentivar a, de fato, colocar isso em prática.
A ansiedade causa uma série de mudanças provocadas pela sensação de medo e preocupação que estão constantemente ativas nesses indivíduos. Ter momentos de tranquilidade e cuidar para que o sono esteja regular, a alimentação minimamente balanceada e práticas físicas estejam sendo feitas com mais constância, são fundamentais para um primeiro momento. Estudos mostram que algumas práticas como ioga também são muito eficazes para pessoas com transtorno de ansiedade.
Independente do grau que o cliente apresenta em seu transtorno de ansiedade, a psicoterapia sempre é uma boa indicação para o tratamento. Na atuação da psicologia não buscamos apenas a diminuição de sintomas. É fundamental que se leve em conta a forma com que este indivíduo lida com os fatores que lhe trazem mais ansiedade, podemos chamar de gatilhos. O psicólogo auxilia a identificar esses gatilhos e fazer esse processo de autoconhecimento dos seus próprios sintomas e do que lhe faz ter mais ou menos ansiedade.
O tratamento da ansiedade não precisa ser doloroso. Fazer uma atividade física por exemplo se faz fundamental, mas nem todos conseguem ter prazer neste movimento, muitas vezes por ter limitado mentalmente que exercício físico é sinônimo de musculação, o que não é. O psicólogo pode sim ajudar o cliente a encontrar uma atividade física que possa ser prazerosa para ele e ao mesmo tempo suprir a necessidade do organismo em liberar toda tensão e energia contida que vem com a ansiedade se faz muito importante neste processo de tratamento.
Certamente o caminho de um tratamento não é só repleto de flores, é preciso também entrar em contato com as suas dores, poder também olhar para sua história e buscar compreender de onde surgiu esse transtorno na sua vida, fazendo uma busca na história pessoal. Esse processo pode elucidar muitas questões relacionadas ao transtorno do cliente, não é à toa que o organismo desenvolve X ou Y transtorno em determinado momento da vida daquele indivíduo.
É claro que em alguns momentos, se fará necessária a presença e apoio de outros profissionais além do psicólogo no tratamento de transtornos de ansiedade, como psiquiatra, por exemplo, em casos mais graves. Essa avaliação da gravidade do transtorno de ansiedade também é fundamental, nem todos os casos necessariamente precisarão de medicação, mas alguns casos necessitam deste suporte para que os sintomas diminuam e permitam que este cliente possa de fato olhar para sua vida e seus problemas com um pouco mais de organização mental.
Também em algum momento no tratamento, será necessário que este cliente enfrente e entre em contato com seus medos. Os transtornos de ansiedade muitas vezes fazem com que o cliente busque fugir dos ambientes, coisas ou pessoas que possam ser gatilhos para sua ansiedade. Por um momento, para o cliente, parece ser uma boa saída, mas ele não pode passar a vida fugindo, fazer o processo de enfrentamento, gradual, no tempo em que o cliente consiga bancar sozinho este enfrentamento, é fundamental. O trabalho do psicólogo neste sentido vai no tempo do cliente, um transtorno não se instala do dia para a noite e da mesma forma não é resolvido em passe de mágica, o processo requer a colaboração e ação do indivíduo também. É importante ressaltar que a psicoterapia é um tratamento fundamental no transtorno de ansiedade pois permite reflexão e mudança comportamental deste cliente, independente da abordagem.
Se puder, faça terapia!