Luto é perder algo, não se trata somente da perda de uma pessoa por morte. Mas também é perder coisas como casa, carro, objetos de muito apreço ou significado e mesmo os términos de relacionamentos amorosos podem trazer a passagem por um sentimento de luto. A questão é que há uma perda. Algo ou alguém não está mais ali.

As angústias relacionadas a este momento de perda aparecem principalmente porque é algo que aquela pessoa perde, fica sem, e na impossibilidade de retomar o que foi perdido, precisa se adaptar e descobrir formas de viver sem aquilo ou sem aquela pessoa.

Um processo de luto pode ser muito dolorido, afinal o mundo segue vivendo normalmente e a dor e sofrimento da pessoa a deixam muitas vezes num estado de paralisia diante das atividades da vida. O mundo segue o seu fluxo normal, e como lidar com esse momento em que parece que o seu mundo individual foi abalado?

Algumas pessoas vão ter esse sofrimento em maior ou menor grau. Isso vai depender de muitos fatores, principalmente da intensidade de vínculo relacionado àquela pessoa que faleceu ou da qual houve um rompimento de relacionamento. Também dependerá das habilidades da pessoa em lidar com aquela situação, mas de verdade, ninguém sabe ao certo como vai reagir diante de uma perda antes que precise de fato vivê-la.

Alguns vão sim precisar de acompanhamento psicológico, outros precisarão inclusive de intervenção medicamentosa. Enquanto outras pessoas vão viver isso tudo menos intensamente.

A pessoa em luto acaba vivendo momentos difíceis de entender a perda, muitas vezes começa a não ver mais prazer nas coisas, pois a pessoa querida não está mais lá. Geralmente se foge de viver o luto, seja trabalhando muito e fazendo mil coisas para não lidar com aquilo ou evitando falar sobre a pessoa que perdeu.

É comum que a pessoa em processo de luto passe por uma série de sentimentos e angústias: estado de choque, não aceitar, não saber o que fazer, desespero, se sentir culpada, ficar irritada e agressiva, sentir-se impotente, querer voltar no passado, sentir-se triste e chorosa, ter dificuldade sentir prazer com atividades que antes eram prazerosas, evitar contato com pessoas e às vezes com coisas que lembrem o ente querido.

Uma psiquiatra, Elisabeth Kübler-Ross, em 1969 escreveu um livro que até hoje tem sido referência de certo modo quando falamos em processo de luto. O nome do livro é Sobre a Morte e o Morrer. Neste livro ela fala de cinco estágios do luto, que vou trazer aqui de forma mais sintética.

Confira cinco estágios do luto

Negação

A negação é o momento em que a pessoa enlutada não aceita, não compreende que aconteceu, desacredita, evita pensar naquilo. Muitas vezes se envolve intensamente em outras atividades, como o trabalho para não ter que acreditar naquela realidade da perda.

Raiva

A pessoa enlutada fica revoltada nesta fase, ainda evita a situação, muitas vezes se sente injustiçado, se sente culpado pelo ocorrido em alguns momentos. Uma frase muito comum é “porque isso aconteceu comigo? Não é justo”.

Barganha

Está é uma fase de busca de alívio emocional. A pessoa enlutada faz promessas, não consegue mais negar o evento, começa a pensar coisas que pode fazer e mudar. A característica principal são essas promessas a si mesmo, ao universo, uma entidade divina, ou algo que permeia a crença individual daquela pessoa.

Depressão

Um momento de tristeza, começa a aceitar a perda, mas o sofrimento é mais intenso. O enlutado se entrega ao sentimento de perda, sente muitas vezes que nunca mais vai ficar bem. Pode começar a achar que foi sua culpa, sente que poderia ter sido ou agido diferente com aquela pessoa que faleceu. Nesta fase podem acontecer afastamentos sociais, evita fazer coisas que gostava, começa a não ver graça nessas atividades sem a pessoa amada. É quando a pessoa sente, de verdade, o vazio da perda e começa a sentir e notar a solidão e tristeza. Nessa fase pode haver alterações de sono e alimentação. Também é comum diversos momentos de choro, afinal é como se a ficha tivesse caído oficialmente.

Aceitação

Após ter sofrido intensamente, o enlutado começa a aceitar o fato e começa a se estruturar para seguir em frente, começa a se reorganizar na vida. Não quer dizer que aquela dor se encerrou e nunca mais retornará, mas a pessoa consegue lembrar de quem se foi sem que isso seja tão paralisante na sua vida. Superar não é esquecer ou apagar o que aconteceu.

Além disso, os rituais de morte como os velórios, são rituais de consolidação da nossa perda, como uma última despedida possível, uma chance de dizer adeus e de viver esse momento de perda ao lado de outras pessoas. Em geral é um momento muito importante que demarca essa vivência para quem fica após um falecimento. Por estar em um local com outras pessoas vivendo essa mesma perda, existe mais sentimento de que terá quem te apoie naquela dor vivenciada.

Quanto tempo dura o luto

Outro ponto que muito é questionado é quanto tempo leva esse processo de luto, muito mais do que o tempo em dias ou meses é entender o como está sendo vivenciado aquele luto. Afinal, cada pessoa irá sentir de uma forma e cada momento pode ser mais ou menos intenso dependendo de muitos fatores individuais. Se sentir ou perceber que alguém tem estado intensamente enlaçado neste sentimento de luto, é interessante que possa buscar ou indicar um processo de psicoterapia. Não é preciso viver essas angústias sozinho.
Se puder, faça terapia!