A depressão ainda é muito banalizada mesmo nos tempos atuais com tanto conteúdo e propagação do tema. Certamente você já ouviu alguém dizer “estava numa deprê esses dias” ou algo do tipo. Mas chamar uma tristeza ou desânimo de depressão não é correto. É preciso lembrar que depressão é uma doença.

Importante começar pela diferenciação: por mais que a depressão tenha como uma característica o sentimento de tristeza, uma não é sinônimo da outra. A tristeza é uma emoção que chega, em geral, vinculada a um acontecimento, seja interno, um pensamento, uma lembrança, uma decepção, ou externo, como um acontecimento, a morte de alguém, um término de relacionamento, uma nota ruim, enfim.

A principal diferença entre a tristeza e a depressão é que a tristeza fica conosco enquanto dura a situação desagradável que causa essa emoção, pode até ser por um tempo mais longo, como em um luto por uma pessoa querida ou por um relacionamento, mas em geral ela se vai quando conseguimos digerir aquela situação que provocou a tristeza.

Já a depressão continua presente por um tempo longo, mesmo que não haja algo específico que nos faça sentir tristes ou desanimados. A depressão costuma também ser um sentimento de tristeza muito mais intenso, realmente pesado e afetar nosso cotidiano, tirando nossas forças para ir trabalhar, nos divertir ou até mesmo levantar da cama. Realmente é uma tristeza de intensidade extrema e que se prolonga por um período maior do que uma situação ou acontecimento pode nos pedir.

Além da tristeza intensa e persistente, a depressão também tem outros sintomas envolvidos, como a falta de interesse, diminuição da concentração para as atividades, uma inquietação, indecisão, sentimentos de culpa e de inutilidade, e por vezes pode acompanhar pensamentos de automutilação ou ideação suicida. Também acontecem em geral mudanças no sono, na alimentação e até na rotina ou atividades de lazer. Se identificar alguns desses sintomas, é importante que busque ajuda profissional para que haja um diagnóstico correto.

É importante que se perceba que a depressão não é uma simples tristeza ou apenas uma tristeza mais forte, ela é, de fato, um transtorno mental. Junto da ansiedade, a depressão é um dos transtornos mentais mais comuns no Brasil e por isso merece nossa atenção e respeito ao falarmos sobre.

Por isso também, a importância de buscar ajuda profissional quando se sentir assim ou mesmo indicar para quem você conheça que está com alguns desses sintomas. O diagnóstico é importante para que de fato possa haver um tratamento adequado e, principalmente, para que essa pessoa não sofra com a doença.

Assim como em uma gripe, por exemplo, precisamos por vezes de um chá ou de um remédio para não nos sentirmos tão derrubados pelos sintomas e seguirmos nossa rotina o mais normalmente possível. Também é necessário que a pessoa com depressão busque o tratamento para que não se deixe cair na doença e possa na medida do possível retomar uma vida fluida e funcional.

Outro fator importante sobre a depressão é que ela não é necessariamente constante, ou seja, uma pessoa com depressão também se diverte, também ri, também conversa, afinal, ainda é uma pessoa como todas as outras. Muitas vezes essa questão gera preconceito e falas como “para trabalhar tem depressão, mas pra ir para balada não tem nada”.

É importante tentarmos, novamente, imaginar qualquer outra doença: estamos com sintomas mas eles não ficam 100% do tempo presentes, voltemos ao exemplo de uma gripe, doença que todos nós em algum momento já tivemos: talvez tenhamos coriza ou dor de cabeça em um momento durante a doença e no outro não, e depois esse sintoma volte e assim por diante.

Também é preciso entender que a depressão pode ter crises. Uma crise depressiva tem alguns sintomas, assim como os da depressão, mas com intensidades maiores e num período não tão extenso. Uma crise depressiva é quando os sintomas da depressão estão no seu pico, ou seja, no auge, incapacitando muitas vezes a pessoa de fazer atividades do dia a dia, até as atividades mais simples como tomar banho, comer e até mesmo levantar.

Outro ponto para se saber é que um quadro depressivo pode ser leve, moderado ou grave, e é chamada assim de acordo com o grau de intensidade da doença. Isso quer dizer que nem todo mundo que tem depressão, necessariamente, vai ficar de cama, sem levantar nem tomar banho ou comer.

Para ajudar a entender um pouquinho mais sobre a experiência de quem tem depressão, a ONU Brasil fez um vídeo com uma bela analogia, chamado “Eu tenho um cachorro preto e seu nome é depressão”.

Assista ao vídeo:

O mais importante é fazer a nossa parte! Se estiver sentindo-se intensamente triste, se perceber que algo não está mais funcionando como antes na sua vida, está desmotivado, sem vontade de fazer nada, está evitando fazer mesmo aquilo que mais lhe dava prazer, ou mesmo se tem tido pensamentos desagradáveis e mórbidos, não exite em procurar ajuda.

Nem sempre é fácil falar para pessoas, mesmo as mais próximas, sobre isso… a depressão ainda é incompreendida por muitos. Não é uma ferida aberta que podemos ver, mas com certeza é uma ferida que machuca demais.

Se você percebe que alguém próximo a você sente-se assim ou tem tido mudanças na sua forma habitual de ser, comer, dormir, se divertir, indique que essa pessoa busque ajuda profissional.

Também não é fácil carregar a responsabilidade pelo bem-estar de alguém que amamos, pois muitas vezes o que dissermos ou fizermos não vai resolver a situação. O que você pode fazer é ser compreensivo e empático, tentar se colocar no lugar do outro: se imagine com esse cachorro preto lhe acompanhando constantemente.

Se puder, faça (ou indique) terapia.

Psicóloga Ana Carolina Schmidt