Quando falamos de ansiedade falamos também das emoções. Nem sempre conseguimos lidar de maneira eficaz com as nossas emoções. Por vezes nem identificamos bem o que estamos sentindo, não é mesmo? Mas um primeiro e importante passo é reconhecer as emoções. Ver o que fazemos naturalmente quando estamos tristes, com raiva, entediados, ou felizes, e questionar o quão adequados ou funcionais estão essas ações que vêm junto com a emoção.
Uma ação muito comum ao se sentir triste é comer, geralmente aquele chocolate, afinal o açúcar libera uma série de reações de prazer no nosso cérebro. Isso se torna reconfortante para um momento difícil. No entanto, não podemos esquecer que quando ingerimos algo, estamos nos alimentando: será que essa fome do chocolate é realmente fome? Um sustento para o corpo ou será um conforto para nossa alma?
Diferente dos outros animais, nós seres humanos não comemos apenas para saciar nossa fome e suprir uma necessidade fisiológica. Muitas vezes, o comer se relaciona com a busca de conforto, o alívio do estresse ou como uma recompensa: o famoso “eu mereço”.
Além disso, socialmente a alimentação tem uma carga importante: comemos quando comemoramos, não é? Festas de aniversário, o almoço de domingo, a ceia de natal e ano novo. São todos momentos de alimentação, com objetivos sociais envolvidos: se relacionar e comemorar.
Assim, já começamos a entender porque muitas vezes o nosso comer pode ficar disfuncional. São muitos fatores envolvidos e, consequentemente, muitas emoções. Se você não comer um pedaço do bolo da sua tia ela vai ficar chateada, fez especialmente para você. Não é assim? Costumamos comendo mesmo sem fome, para não fazer desfeita, ou para não sobrar porque eram os últimos pedacinhos.
E aí chegamos num ponto importante: o comer emocional, quando não mais estamos comendo para suprir uma fome fisiológica, mas sim uma fome emocional, a comida acaba sendo a forma de suprir uma necessidade emocional.
Parece que dá muito certo comer aquele docinho num momento de tristeza, mas muitas e muitas vezes depois vem a culpa e arrependimento por ter saído da dieta ou mesmo porque o problema continua ali, afinal a necessidade não era do alimento em si, mas do conforto.
Isso acaba gerando um ciclo: você sente o estresse emocional, percebe a necessidade de alívio dessa emoção, vê na comida uma alternativa de conforto, sente um conforto temporário, se sente culpado por ter comido “desnecessariamente”, as emoções ruins retornam e você entra novamente no ciclo.
E assim um docinho não foi suficiente. Talvez uma caixa também não e cada vez mais a sensação de culpa cresce.
Esse ciclo nos mostra um pouco de como funciona a fome emocional em relação à fome fisiológica e é importante saber diferenciar essas duas formas.
Diferença
A fome fisiológica aparece gradualmente. Aos poucos você percebe que tem a necessidade de ingerir algum alimento. Enquanto a fome emocional é abrupta, vem “do nada”. Além disso, quando a fome é fisiológica conseguimos esperar um pouquinho para supri-la. A fome emocional nos traz a sensação de necessidade urgente, tem que ser naquele momento.
A fome emocional também requer alimentos específicos. Diferente da fome fisiológica, geralmente a emocional nos pede alimentos gordurosos e doces, isso porque eles nos trazem mais satisfação, são alimentos que liberam mais hormônios de prazer. A fome fisiológica é suprida com uma variedade de alimentos, está aberta a opções não tão calóricas, como uma fruta.
Além disso, a fome emocional não está relacionada ao estômago cheio ou vazio, enquanto a fome fisiológica cessa quando estamos cheios. E, principalmente, quando estamos com fome fisiológica não nos sentimos culpados por ter comido como acontece quando aparece a fome emocional.
Algumas perguntas podem te ajudar a identificar se você está tendo essa fome emocional:
– Você come mais quando está estressado?
– Você come quando não está com fome ou quando está satisfeito?
– Você come para se sentir melhor (para se acalmar, quando está triste, bravo, entediado, ansioso)?
– Você se recompensa frequentemente com comida, o famoso “eu mereço”?
– Você continua a comer mesmo percebendo que está cheio?
– A comida faz você se sentir seguro? Você sente que a comida é uma amiga, companhia
– Você se sente impotente ou sem controle em relação à comida?
Uma alternativa muito bacana também para que você identifique o que acontece é registrar como estava se sentindo antes e depois de comer e qual foi o alimento. Isso pode ajudar a identificar que emoções mais te afetam e te fazem sair do seu planejamento alimentar.
Ainda assim esse processo de mudança pode ser bem difícil, a ajuda profissional é sempre muito importante.
Se puder, faça terapia!