A busca por alcançar os padrões de beleza sempre esteve presente na história da humanidade, desde as civilizações antigas. Inclusive, houve um tempo em que o padrão de beleza vigente era representado por pessoas gordas, pois indicavam riqueza e fartura de alimento, algo não tão comum.

Foi mais ou menos em 1930 que iniciaram os movimentos de dietas mais intensas para busca da magreza. Quem nunca ouviu falar das revistas com as dietas da moda? Dieta da lua, dieta dukan, dieta da sopa, dieta low carb, dieta do ovo, jejum intermitente de 24h e por aí vai.

O que ninguém te conta é que todas essas dietas restritivas acabam por modificar o seu sistema interno de fome e saciedade. Naturalmente temos um sistema interno que nos alerta sobre a necessidade de comer, e também que nos alerta sobre a nossa saciedade, ou seja, nos avisa para parar de comer. Desse sistema fazem parte, principalmente, a leptina e a grelina, talvez você já tenha ouvido falar.

Esses dois hormônios são produzidos pelo nosso corpo como forma de nos ajudar a iniciar ou parar o movimento de busca por comida e alimentação, sendo a grelina um promotor de fome e a leptina um indicador de saciedade.

Quando as dietas super restritivas limitam a alimentação a um horário, por exemplo, você acaba deixando de lado a sabedoria do seu organismo de dizer quando você tem fome. Quando você tem uma dieta definitiva, que te diz que você vai lanchar uma maçã pela manhã, por exemplo, você também deixa de dar ouvidos ao seu sistema de saciedade que te informa quando o que você comeu é ou não suficiente para você.

Esses movimentos desregulam o seu sistema de fome e saciedade e, por vezes, quando você não está mais na dieta ou quando você decidiu que iria “furar a dieta”, pois tinha uma festinha de aniversário, você acaba comendo até o reboco das paredes, como dizem por aí.

A questão é que a privação faz nosso cérebro reagir: se eu não posso comer bolo, quando vou comer, acabo por comer muito mais do que precisava, afinal o que eu ouço não é meu sistema de fome e saciedade interno, mas sim o meu sistema de recompensa dizendo: “coma mais, é só hoje, coma tudo que você puder, amanhã é só salada”.

Isso tudo e mais algumas coisinhas fazem com que todo o processo e a relação com a comida fique todo bagunçado. Lembrando que aqui estou falando de uma forma ampla sobre as dietas que são muito restritivas e falo do lugar de psicóloga, com especialização em transtornos alimentares, obesidade e cirurgia bariátrica, e não como nutricionista.

A verdade é que as dietas da moda nem sempre são feitas com acompanhamento nutricional e aí mora o perigo de estar fazendo um movimento ainda mais prejudicial para saúde e até mesmo para o processo de emagrecimento.

Afinal, essas dietas restritivas com períodos de “enfiar o pé na jaca” levam muitas vezes ao famoso efeito sanfona, com reganho de peso e, por vezes, inclusive com aumento do peso inicial.

Então certamente o acompanhamento com nutricionista é fundamental, mas também precisa haver mudanças na relação com a comida e, neste ponto, a psicoterapia é fundamental e pode ser uma virada de chave no processo de emagrecimento.

A maneira como nos relacionamos com a nossa alimentação é bem complexa. A comida pode ser amiga, pode ser fonte de prazer, pode ser forma de comemorar, forma de sofrer, forma de recompensa, entre outras coisas.

Olhar mais e entender melhor a sua forma de se relacionar com a comida, todas as questões por trás disso e buscar exercícios de mindful eating podem ser propostas bem interessantes e o profissional da psicologia, principalmente o psicólogo especializado nessa área, pode te ajudar a trilhar.

Se puder, faça terapia!
Psicóloga Ana Carolina Schmidt

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