A depressão é um assunto muito sério, mas mesmo atualmente ainda existe um preconceito muito grande sobre o tema. Um dos pontos mais importantes para desmistificar um pouco dos preconceitos envolvidos quando se fala de depressão, é compreender o que de fato ela é.

A depressão é um transtorno mental, tem um número de CID (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde), ou seja, uma classificação dentro do manual de doenças existentes e catalogadas.

A depressão também está descrita amplamente em outro manual importante que é o DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana).

O cérebro de uma pessoa com depressão tem algumas alterações no seu funcionamento e isso faz com que a pessoa sinta todo o conjunto de sintomas que englobam a depressão: desânimo, pessimismo, cansaço, desmotivação, dores, sono e fome alteradas, etc.

Existe uma coisa que acontece no cérebro de quem tem depressão, uma falta ou uma alteração de neurotransmissores, o qual são os mensageiros químicos que fazem o cérebro funcionar devidamente.

O cérebro de uma pessoa com depressão pode, sim, ter diferenças, não necessariamente na sua estrutura, mas no seu funcionamento químico. Compreender isso pode ser o primeiro passo para desmistificar a ideia de que depressão é “mimimi”.

Ninguém questiona se uma dor de dente existe mesmo, ou se um dedo decepado dói, ou mesmo se um ralado no joelho incomoda. Por que será?

Infelizmente a nossa cultura do “ver para crer” dificulta um pouco a compreensão mais ampla da depressão pela sociedade, afinal, um transtorno mental não tem cara, não tem biotipo, não tem aparência.

Qualquer coisa que acontece dentro de nós, que é imaterial, invisível aos olhos, como nossos pensamentos e nossas emoções são subjetivas e são muito individuais. Quem já assistiu Titanic? Algumas pessoas se emocionam e choram em filmes românticos e dramáticos, outras não ligam muito ou até se comovem, mas não ao ponto de chorar. Cada pessoa é diferente e isso não vale só para as aparências.

Outra coisa que podemos pensar para compreender isso é que mesmo gêmeos idênticos têm coisas distintas, uma delas, mais evidente, é a biometria, por mais que a semelhança seja muito profunda. Outro ponto singular se trata de como essa pessoa é, sua personalidade, o que a deixa feliz, seus gostos, hobbies. Isso tudo faz parte da construção de vida do ser humano.

O que isso tudo tem a ver? Bem, mais algumas reflexões: se eu choro com um filme romântico e você não, existe alguém que está certo e alguém que está errado? Existe um padrão absoluto para seguirmos, dito “normal” para a forma que nos sentimos diante das coisas? A resposta, acho que você já imagina, é não.

Se nem para pequenas coisas do dia a dia temos um padrão na forma de nos sentirmos, por que então esperar que todos sejam “igual a você”?

Esse é um ponto chave quando falamos de depressão: não dá para comparar uma pessoa com depressão com outra pessoa com depressão, quem dirá comparar uma pessoa com depressão e uma pessoa sem depressão.

Cada vivência é muito particular. Mas como saber se o que eu vivo é algo patológico ou “normal”, por assim dizer?

Alguns sintomas podem acender um alerta para perceber se a tristeza sentida é um pouco maior do que o “padrão”. Mas aqui é bem importante frisar que esse “padrão” não é o meu ou de fulano e ciclano, a comparação precisa ser sempre relacionada à vivência anterior do próprio indivíduo.

Então se você se sente mais triste e desanimado do que geralmente VOCÊ se sentia há um tempo, esse alerta precisa ser acionado.

Se a sua vida começa a ficar meio sem sentido, você só vive um dia depois do outro, só repetindo as mesmas atividades, e às vezes chega a pensar que sua vida nem faz diferença no mundo, opa, sinal de alerta.

Outros sinais importantes de alerta podem ser: alterações no seu jeito habitual de ser; alterações na sua alimentação, para mais ou para menos; falta de vontade para fazer as coisas, mesmo aquelas que você mais gostava antes; dificuldade de levantar da cama ou querer passar muito tempo deitado/dormindo; sentir que faz as coisas do dia a dia “se arrastando”, ou seja, com muita dificuldade ou muito esforço, mesmo em coisas simples como tomar banho, entre tantos outros sintomas que podem aparecer.

Esses são algumas das mudanças que podem e precisam ligar um alerta. Um alerta não quer dizer que você tem depressão, mas pode ser sinal de que algo não vai bem e é importante olhar para isso antes que se torne algo mais intenso.

A indicação principal é buscar um profissional da saúde para descartar todas as questões fisiológicas possíveis (por exemplo, falta de algumas vitaminas podem causar sintomas que lembram uma depressão, mas a simples suplementação de vitaminas já irá normalizar, se for o caso) e, se identificada necessidade de um acompanhamento, o psiquiatra e o psicólogo são sempre os profissionais que lidam com as mudanças cognitivas, emocionais e neurobiológicas.

Lembrando que, mesmo que não haja um quadro de depressão, sentir-se desanimado o tempo todo não é “normal”, uma ajuda psicológica pode ser importante para olhar para os fatos da sua vida e para sua vivência, para ressignificar e encontrar ou reencontrar o seu propósito.

Se puder, faça terapia!
Psicóloga Ana Carolina Schmidt