Ainda teremos muitos obstáculos a enfrentar durante a pandemia, mas também é necessário imaginar a vida urbana no pós-crise. Neste sentido, gostaria de fazer algumas reflexões sobre a importância de espaços culturais públicos e descentralizados em Joinville.
Em plena pandemia, algumas mudanças já estão consolidadas, como o consumo local, o home office e o EAD. Dificilmente os centros urbanos voltarão a ser como eram e isso se estende à outras áreas, como a cultura. Não temos previsão para o retorno de shows, teatros e cinemas no Centro da cidade. Com isso, a população buscará por opções de entretenimento em suas próprias comunidades.
Se antes grupos, coletivos e associações eram opções de lazer e cultura nos bairros, agora eles serão importantes condutores deste setor na cidade. Joinville já possui excelentes exemplos desta atuação, como a Casa Iririú ou a Amorabi (Associação de Moradores e Amigos do Bairro Itinga), que desenvolvem desde oficinas e apresentações culturais até ações solidárias. O fato é que além destas iniciativas, os espaços públicos também precisarão ser adaptados. A comunidade viverá mais os parques, as praças e os ginásios de seus bairros.
Talvez seja necessário abrir quadras escolares finais de semana para atividades esportivas e apresentações culturais. Talvez os parques e praças nos bairros tenham que ser equipados com sanitários fixos, palcos, iluminação e segurança pública. Apresentações públicas que ocorriam no Centreventos ou no Teatro Juarez Machado talvez tenham que se tornar itinerantes. Estas são apenas possibilidades, mas o certo é que o entretenimento terá que permear os bairros da cidade.
Isso ocorrerá porque a falta de políticas públicas eficazes de contenção à pandemia fará o Brasil viver a crise por muito mais tempo que os outros locais. Não quero ser pessimista, mas se em países como a China, Itália e Espanha que seguiram normas mais rígidas de quarentena ainda existem novos surtos, imaginem no Brasil, em que até agora não vivemos uma quarentena de verdade.
Vamos usar Joinville como exemplo. É nítido que a liberação de serviços não essenciais e a retomada do transporte público agravaram a transmissão do novo coronavírus. Basta comparar os gráficos de aumento de casos com a data da retomada destes serviços. Desta forma, a tendência é que a vida comunitária se torne algo cada vez mais necessária e segura.
Obviamente, a saúde é prioridade neste momento. Torcemos para que haja uma vacina em breve e para que a crise seja contida. Entretanto, a dinâmica das cidades precisará mudar, pois a depressão causada pelo isolamento já é tida como preocupação e também afetará a saúde da população, como observa a própria OMS.
Ou seja, apesar dos momentos mais intensos de isolamento, a população também precisará espairecer e viver a cultura. Que isso seja feito com apoio e aval do governo municipal, em ambientes seguros e higienizados. Desta forma a arte terá espaço para continuar sua importante função social de amenizar as dores das nossas vidas e de nos estimular a imaginar um futuro melhor.