Saiba quais são desdobramentos 30 dias após acidente que derrubou ácido na Serra Dona Francisca
Acidente aconteceu no dia 29 de janeiro e segue sendo investigado
Acidente aconteceu no dia 29 de janeiro e segue sendo investigado
O acidente que derrubou ácido sulfônico na Serra Dona Francisca (SC-418) completa 30 dias nesta sexta-feira, 1º. Autoridades seguem trabalhando para garantir a proteção e recuperação da área atingida, assim como identificar e responsabilizar possíveis culpados.
Um caminhão bateu contra um barranco e tombou na Serra Dona Francisca na manhã de 29 de janeiro. O veículo estava carregado com ácido sulfônico, que foi derramado na terra e atingiu o rio Seco, que leva água ao rio Cubatão — este é responsável pelo abastecimento de água de 75% de Joinville.
Conforme imagens registradas por um motorista que trafegava na Serra no momento, próximo à “curva da morte”, o caminhão ultrapassa uma fila de veículos, segue reto na curva e bate contra o barranco. Por pouco, outro caminhão e um carro que passavam pelo local não foram atingidos pelo veículo.
O condutor do caminhão sofreu apenas lesões leves, mas foi internado no Hospital Municipal São José. Ele recebeu alta médica na manhã seguinte, dia 30 de janeiro.
O caminhão que se acidentou na Serra Dona Francisca estava a caminho da unidade de distribuição da empresa Buschle & Lepper, em Joinville. A empresa informou que o insumo, utilizado para a produção de detergentes e similares, era transportado pela empresa terceirizada Transpare Transportes (Inlog).
O ácido sulfônico é uma substância química utilizada em produtos de limpeza, detergentes, agrotóxicos e processos têxteis. Segundo a professora Lucile Peruzzo, especialista em química, ele é altamente solúvel em água e pode formar espumas prejudiciais à vida aquática.
A substância transportada em Joinville era Ácido Lineal Alquilbenceno Sulfônico (LAS), com concentração de 90%. Os perigos do ácido sulfônico incluem sua corrosividade para metais, riscos de ingestão e irritação na pele, além de ser nocivo para a vida aquática.
Segundo o coordenador Regional do Meio Ambiente de Joinville, Nilson Adriano Willemann, desde o momento do acidente, as equipes do Instituto do Meio Ambiente (IMA) se deslocaram para o local para adotar as primeiras providências de monitoramento do meio ambiente e auxiliar na contenção e limpeza do material derramado.
Desta forma, a equipe trabalhou auxiliando os profissionais da empresa especializada em emergência ambiental contratada pelos responsáveis pela carga. Este trabalho se concentrou na retirada do produto e dos tonéis que caíram na área.
Foram removidas aproximadamente 70 toneladas de solo contaminado e não contaminado ao longo de uma área de cerca de 50 metros quadrados (m²). A limpeza foi realizada pela Ambipar, com início no dia 5 de fevereiro e fim no dia 8 de fevereiro. O solo contaminado foi encaminhado para a empresa Piquiri Ambiental LTDA, em Pinhais (PR), que promoverá o descarte ambientalmente correto.
O IMA também autuou por poluição ambiental, a empresa responsável pelo derramamento de ácido sulfônico na Serra Dona Francisca. A empresa responsável foi multada em R$ 3.352.500 com um auto de infração ambiental (AIA).
Além disso, o órgão entregou a notificação técnica para a empresa iniciar monitoramento da fauna e dos recursos hídricos impactados pelo produto.
Conforme Nilson Adriano, se forem constatados prejuízos ao meio ambiente, a empresa deverá prover a restauração ambiental, reintrodução de fauna e remediação de área contaminada, se houver.
Após a conclusão das análises e verificação dos possíveis impactos ambientais, a empresa deverá apresentar um plano de ação para recuperação da área impactada, por um Plano de Recuperação de Área Degradada (Prad).
A Polícia Civil de Joinville, por meio da Divisão de Crimes contra o Meio Ambiente, investiga o acidente ocorrido na Serra Dona Francisca. Conforme a Polícia Ambiental, os efeitos do ácido sulfônico na natureza apareceram, com a presença de peixes mortos no rio Seco.
“Como se trata de crime ambiental, há a possibilidade de implicação criminosa a empresas envolvidas, já que em casos de crimes ambientais cabe a responsabilização de pessoas jurídicas”, explica a delegada Tânia Harada, coordenadora da Divisão de Investigação Criminal.
Segundo a delegada, a polícia ainda aguarda o laudo ambiental e o encaminhamento de alguns documentos por parte de órgãos oficiais e empresas. “Houve demora no encaminhamento de algumas informações por parte de empresas”, comenta.
Tânia afirma que, apesar do inquérito não estar finalizado, a transportadora e o motorista deverão ser indiciados pelo crime de poluição culposa, quando não há intenção de cometer o crime. “Estamos verificando a responsabilidade das demais pessoas jurídicas envolvidas”, afirma.
A Prefeitura de Joinville, por meio da Companhia Águas de Joinville, informou que a água que chega até a Estação de Tratamento de Água (ETA) Cubatão segue sendo analisada após um mês do acidente.
No rio Seco são realizadas análises duas vezes ao dia e no local da captação são quatro vezes ao dia. A prefeitura também confirma que não foi registrada nenhuma alteração no período, somente no dia do acidente.
O acidente ocorrido na Serra Dona Francisca afetou o abastecimento de água em 34 bairros de Joinville. Como medida preventiva, a ETA Cubatão fechou a captação.
A ETA Cubatão em Joinville foi reativada na manhã seguinte ao acidente. Os técnicos continuaram a análise das amostras de água coletadas a cada meia hora. Com a concentração química abaixo do recomendado, a ETA foi religada, iniciando o processo de tratamento.
No dia 1º de fevereiro, o secretário de Estado de Infraestrutura, Jerry Comper, anunciou a construção de duas áreas de escape na Serra Dona Francisca. O projeto, elaborado de forma emergencial, contempla quatro áreas de escape, mas apenas duas serão priorizadas inicialmente para acelerar o processo licitatório.
A segunda área de escape será localizada no quilômetro 17 e ambas terão rampas de contenção elevadas, construídas com seixo semelhante às pedras de rio, com comprimentos estimados em 120 e 140 metros, respectivamente.
A construção das áreas de escape na Serra Dona Francisca, situada em uma Área de Proteção Ambiental (APA), requer aprovação do Instituto do Meio Ambiente (IMA). Para obter essa aprovação, a Defesa Civil deve declarar a emergência das áreas previstas para as áreas de escape.
Essa declaração será encaminhada ao IMA pela Secretaria de Infraestrutura, cabendo ao órgão ambiental decidir sobre a instalação das áreas de contenção. O projeto técnico para as áreas de escape na Serra Dona Francisca está concluído, mas a licitação e a publicação devem demorar no mínimo três meses. Após a publicação, as empresas interessadas enviarão propostas, com previsão de mais um mês para a escolha da vencedora.
O projeto de duplicação e revitalização dos 32 quilômetros da Serra Dona Francisca inclui quatro áreas de escape e tem um custo estimado de R$ 153 milhões. Além disso, a região requer um investimento total de R$ 200 milhões, com duas grandes obras planejadas: uma na BR-101 até o pé da Serra, com 12 quilômetros, orçada em R$ 86 milhões, e a revitalização da própria Serra Dona Francisca.
No entanto, a nova demanda na Serra pode atrasar discussões sobre obras em Pirabeiraba. Apesar dos recursos já alocados, o Conselho Gestor da Área de Proteção Ambiental Serra Dona Francisca discordou da duplicação proposta pela Secretaria de Infraestrutura, preferindo obras na rodovia sem a duplicação prevista no projeto original.
Após o derramamento de ácido sulfônico no rio Seco decorrente do acidente na Serra Dona Francisca, a classe política, reagiu com propostas legislativas. Krelling apresentou um projeto de lei para proibir o transporte de cargas perigosas na rodovia, restringindo especialmente substâncias tóxicas e infectantes da classe seis.
O projeto permite a circulação desses veículos apenas em casos de emergência, com comunicação prévia ao órgão de trânsito competente. Krelling argumenta que a segurança na Serra Dona Francisca precisa de melhorias significativas e que os investimentos nesse sentido têm sido insuficientes ao longo do tempo.
Vereadores de Joinville aprovaram uma moção durante sessão ordinária na Câmara nesta terça-feira, 27, pedindo à Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) celeridade na análise de projetos que visam proibir o tráfego de cargas perigosas na Serra Dona Francisca.
Região de Joinville já era habitada há 10 mil anos: conheça os quatro povos anteriores à colonização: