Eu já escrevi algumas vezes neste espaço sobre futebol e política e, embora muita gente as trate como água e óleo, a realidade é que andam juntas. E nesta semana de efervescência política no país, as pautas chegaram à cidade e ao Joinville Esporte Clube.

Há alguns anos estão surgindo no Brasil grupos de torcedores que se organizam em torno de coletivos antifascistas. Quase todo time no país tem um grupo Antifa entre seus aficionados, incluindo os catarinenses Avaí, Figueirense e Criciúma. Nenhum deles tem ligação com o clube, são todos independentes, organizados, geridos e mantidos pelos próprios torcedores. Essas organizações costumam combater preconceitos nas arquibancadas e se colocam contrários a elitização no esporte.

Na semana em que diversos desses coletivos estiveram na linha de frente de manifestações no Rio de Janeiro e em São Paulo, um grupo de torcedores criou o “JEC Antifa” e colou alguns cartazes na região da Arena, “divulgando” o surgimento do grupo. Além disso, uma página no Instagram também foi criada. O Joinville, então, divulgou uma nota desautorizando o uso de sua marca pelo grupo. O posicionamento dividiu os torcedores.

Entendendo que os grupos antifascistas lutam contra coisas como racismo, homofobia e xenofobia nos estádios, além de brigarem por um futebol mais popular e democrático, por isso, não faz nenhum sentido o posicionamento do clube neste momento. São valores que os times deveriam abraçar e não afastar. Nenhum outro clube do país se colocou contrário a esses grupos em suas arquibancadas e nem fez qualquer menção os desautorizando a usar sua marca.

O próprio Joinville já teve vários movimentos de torcedores que usaram as cores, o mascote, a abreviação e até versões estilizadas do escudo e nunca os desautorizou. E nem deve, visto que os torcedores são também parte do clube. Se posicionar contra um movimento democrático sem ligação politica com o clube chega a ser bizarro.

Algumas pessoas podem até dizer que o Joinville não pode ter sua imagem ligada a nenhum grupo político, mas isso seria uma grande incoerência histórica. Desde 1976 o JEC está ligado a grupos políticos. Não é à toa que em toda eleição municipal, candidatos desembarquem na Arena se dizendo jequeanos fanáticos, frequentadores de estádio desde os tempos do Ernestão e tricolores até a última fibra do corpo.

A presença dessas pessoas diminui bastante depois dos pleitos eleitorais, o que me faz achar, só achar, que o clube não é tão querido assim pelos candidatos locais. A própria construção da Arena serviu para alavancar a reeleição do então prefeito Marco Antonio Tebaldi, no meio da década passada.

É claro que o Tricolor deve cada vez mais tomar o cuidado de não se relacionar a grupos políticos ou ideológicos, já que é um clube com uma torcida muito grande e plural ideologicamente. Mas ao mesmo tempo creio que o clube perdeu uma boa oportunidade de ficar quieto quando se posicionou contra a JEC Antifa. Se posicionar contra um grupo que se opõe a ações fascistas traz muito mais prejuízos a imagem do clube do que a própria existência desse grupo.